sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

"Merlin", de Stephen Lawhead | Um pouco melhor.

 Mais uma rant curtinha no último dia do ano. Se bem que este livro até merecia um pouco mais.

Esta vai ser mesmo muito curta... já terminei o livro à uns 3 meses. Não posso deixar estes textos por escrever tanto tempo.

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 (As capas continuam horrendas)


O segundo livro do "Ciclo Pendragon", "Merlim" seguem... bem segue o "Merlim", até agora a personagem mais interessante da história e a qual eu não vou conseguir fazer justiça neste "mini-rant".
Continuo a não gostar muito da imposição do Cristianismo na história, acho que podia ser um pouco mais ligeiro. Contudo compreendo, pois é uma característica da época que o autor está a tentar retratar. 

Para ser honesto, não me apetecia deixar Merlim e passar para "Artur". Mas vamos ver como corre.

4/5

"Aeronave Nove" de Thomas Block | Americans = Heroes & Russians = Bad

 Segunda pequena rant do dia, agora em português. Deixei acumular três rants para o último dia do ano mas, que melhor forma de passar a noite de ano novo, do que a escrever rants? Mas estas vão ser mesmo muito curtinhas, apenas uma curta menção.

Deixei isto acumular, não o devia ter feito, mas acontece quando os livros não mexeram muito comigo, seja pela positiva ou pela negativa.

Comprei este livro, em segunda mão, pelo OLX a um vendedor da Madeira, por dois euros. É de capa dura, mas mesmo assim vem um pouco mal tratado, só depois descobri que devia ter uma sobrecapa (que está representada na imagem abaixo), mas olha... paciência. Por dois euros está bom.

 

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 
No começo, a premissa do livro surpreendeu-me. Sabia que era uma história sobre um dirigível, mas desconhecia o contexto. Na verdade trata-se de um enredo pós-apocalíptico, onde quase todo o planeta foi bombardeado com armas nucleares. Tal começa no clima da Guerra Fria, sendo que o próprio livro foi escrito no final da mesma, onde americanos e russos estão constantemente em competição para... bem para tudo e mais alguma coisa imaginável. (Quase nada mudou até hoje...)
 
O enredo acompanha os tripulantes e passageiros de um dirigível, a Aeronave Nove, e os passageiros e tripulantes do navio soviético Primorye. Ambos os grupos encontram-se perto da Antártida, e chegam à conclusão que a estação americana de McMurdo é a sua melhor hipótese de sobreviverem ao desastre nuclear que se está a difundir pelo planeta.

Obviamente os Russos estão cheios de más intenções e mesquinhices, os americanos apenas querem paz e prosperidade para todos... tal como na vida real... *cough cough* Ironias à parte, acaba por ser interessante ler este livro, tendo conhecimento sobre as especificidades da Guerra Fria e das sequelas que perduram até hoje. Acaba por ser um "estudo de caso".

Mas enfim, grandes trapalhices pelo meio, os russos são derrotados e os sobreviventes vivem felizes para sempre... nada de muito mais a contar. Apesar de ser um livro fraco, acho que dava um bom "filme de Sábado à tarde", daqueles cujos direitos são baratos e passam três vezes por mês.

Dou-lhe um 3/5, muito devido a ter-me divertido com a "estudar" o livro como um produto da mentalidade americana.
 

"Jurassic Park" by Michael Crichton | I feel guilty but...

 It's been a long while since I wrote something here. I have been reading, but lacked the patience to write proper rants.

So, today, the 31st of December of 2021, I will try to write three short reviews, in the reverse order of reading.

 

**Warning: The text below might contain spoilers and a fair amount of sarcasm**

**Disclaimer: All of this is purely my personal opinion. That means that it's not worth anything for anyone but me.** 

 


 I decided to read this book due to the movies, in particular the first movie. I saw it as a kid, many years ago... maybe one or two years after it came out, so I should have been around 7-8 years old. This movie made me fall in love with dinosaurs, and I actually wanted to be a palaeontologist until the second to last year of secondary school (so around when I was 17 years old) - then I made an abrupt change to "History".

«The books are always better than the movies»... so I went in certain that I would like it, since I loved the movie. The main objective is to "know more" and to see what was changed for the movie.

Contrary to most people (according to other reviews that I just read), I actually loved the first half of the book, it was very slow paced, but it added a ton of information about the setting of the story. In the movie, all of this is condensed (and I understand why), or cut.

Then I got to the actual part of the story with dinosaurs... and I didn't really like it. I feel a bit guilty, but the characters didn't "say" anything to me. The two kids are just plain annoying, they add nothing but trouble. In the movies they were much better, maybe due to the change in age. In the book, Tim is 11 and loves dinosaurs, Lex is 6, and does not give a shit about dinosaurs, she just wants to play baseball and cause trouble. In the movie, Tim is maybe 10 and still loves dinosaurs, but Lex must be around 13-14, she doesn't particularly like dinosaurs, but is still amazed by them... and she is not useless, nor is she just an handicap.

Hammond, was also very disappointing in the book, at the start he appears to care about his grandchildren, but then, towards the end, he even despises them. I mean... I despised them too. I wished some Raptor would just eat them and end everyone's suffering. In the movie, Hammond plays the same role, but he actually cares about the kids, and he LOVES dinosaurs! The Hammond from the book, doesn't care about anything but money.

Ian Malcolm was also disappointing... what was the point of this character? He was just a herald and a way of presenting exposition. He spent most of the book on a death bed, saying "I told you so", in a hundred different philosophical ways... and then he died.

In general, most characters just made dumb decisions, for example, Hammond, after being "besieged" in a room by raptors, and passing by many dangers, seeing injured and dead people, just decides to take a stroll outside to «catch some air»... guess what? He died as well.

The dinosaurs themselves were also very inconsistent. In one chapter the raptors will track down and hunt the characters like expert hunters... on the next, the characters will stand a few meters away, inside the raptor nest, talk to each other, follow the raptors... and the damn animals don't notice a thing. They change according to the needs of the narrative.

So, in short, the second half of the book didn't do it for me. It lacked the emotion, the characters, and even the plot. A shame, but I don't think I'll move on to the sequel.

3/5, Still love the movie though.  

domingo, 7 de novembro de 2021

"Se Acordar Antes De Morrer", de João Barreiros | Uma nova descoberta

Cometi um crime, pois foi... já terminei este livro há mais de um mês e tenho adiado a escrita desta rant desde então. Arranjei um novo emprego, quase part time, mas que não o é, 12 horas por semana parece coisa pouca, mas são 12 horas cheias de furos no meio (se contasse os furos seriam 20 horas), mais uma hora e meia de caminho, duas vezes ao dia. Isto somado a todo o trabalho que se faz em casa, a preparar as aulas, matérias e às infinitas reuniões fora de horas... por menos que o ordenado mínimo... honestamente não compensa. Ser professor não é uma má profissão... é um grande esforço, pois é preciso gostar do que se faz e ter uma dedicação extrema aos alunos (mesmo quando se sabe que eles não gostam de ti), mas o pior aspeto de todos é mesmo os horários. É apenas o meu segundo ano ao serviço, é certo, mas nestes dois anos tive horários terríveis. Passo sempre quase o mesmo tempo lá parado a "olhar para o ar" do que a dar aulas. Os colegas, que são do quadro e tem os seus horários todos bem organizados, dizem "Então, aproveitas esse tempo para adiantar trabalho. Depois já não tens de fazer nada em casa." Lindo, mas completamente peta! Eu tenho de preparar todas as aulas da semana no fim de semana, deve ser defeito meu, mas não gosto de preparar tudo em cima do joelho. Para além disso, apenas consigo preparar novas aulas, depois das que já estão preparadas terem terminado... caso contrário posso estar a preparar coisas que nem se enquadram com o que realmente vou ter de ensinar aos alunos. Ou seja... tenho aproveitado esse tempo para ler. Na realidade, esses furos têm sido os únicos momentos que tenho tido para ler (tirando as inevitáveis, mas relativamente breves, idas à casa de banho). Portanto, pelo menos algo de positivo. 

Bem... onde já lá vai o texto, era suposto escrever sobre um livro, mas é sempre assim. Felizmente não há ninguém para reclamar.

Desconhecia por completo o trabalho do autor. Já tinha aqui em casa o "Terrarium", de João Barreiros e de Luís Filipe Silva, mas ainda não o tinha aberto. O que primeiramente me chamou à atenção foi a capa, a arte de Andreas Rocha realmente é algo deslumbrante, quando a descobri passei umas duas horas a navegar pela galeria de imagens fantásticas. Realmente, basta um livro ter uma imagem destas e fica logo com outro valor. (https://www.artstation.com/andreasrocha)

Mas avançando, logo de seguida o que me espantou foi o preço. Como é possível que este livro esteja à venda por menos de quatro euros? A minha primeira intuição foi que "deve ser por não ser lá muito bom, baixaram o preço para ver se despacham isto", mas comprei na mesma, hábitos de quem conta os tostões todos desde que a família teve de "apertar o cinto". Ainda usei um descontozito que tinha acumulado, portanto o livro ficou para aí nuns dois euros e meio, literalmente "dado". E depois... bem depois li o raio do livro, até comprei uma cópia extra para oferecer, e pergunto-me o porquê de isto não estar à venda por, digamos, uns quinze euros? Vá mínimo uns doze euritos. É que, caramba, o livro é bom! Destes três euros e cinquenta (preço base) quantos cêntimos chegam ao autor? Deviam aumentar o preço (claro, digo isto depois de o ter comprado, aumentem mas eu já não pago).

Mas enfim, vamos lá ao livro em si. 


**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 

 Ora bem, "Se Acordar Antes de Morrer" é um livro de contos de ficção cientifica. A minha única experiência  em livros deste género incide sobre os três clássicos de H. G. Wells, "The Time Machine", "The Invisible Man" e "The War of the Worlds", pelo que a minha entrada pelas escritas de João Barreiros foi um pouco atribulada.

 

O primeiro conto, "Brinca Comigo" correu bem, se bem que já dando alguns indícios de que iria ser necessário uma dedicação profunda ao texto.  Achei muito interessante a visão do autor para os brinquedos do "futuro" e a busca insaciável dos mesmos por encontrarem um humano que lhes dê propósito.

 

Entrando no segundo conto " Disney no ceú entre os Dumbo", a situação complicou-se um pouco. Admito que tive de reler os primeiros dois a três capítulos umas duas vezes, para tentar compreender o que raio se estava ali a passar. O texto é mais complexo, com termos que desconhecia completamente, tornando a progressão mais demorada. Contudo, pelo final, acabei por apreciar bastante este conto, especialmente pela luta do protagonista contra a regular "sucção" de memórias de que é alvo.  


Apesar que já se encontrarem presentes nos primeiros dois contos, foi a partir do terceiro, "Efemérides", que comecei a valorizar mais as notas introdutórias, são uma janela para os espírito do autor (muito poético, sim sim, muito bonito) e ajudam na compreensão do teor do texto. Nesta caso, sente-se a frustração de um sonho "perdido" pela humanidade. Nunca mais fomos à Lua, nunca mais tivemos uma nação inteira em suspense, simplesmente a olhar para um ecrã, à espera que um pequeno grupo de humanos desse mais um paço "na direção do futuro". Não, tudo isso acabou, venceram os velhos do Restelo, fechámos-nos dentro do nosso planeta, trancámos bem as portas e pusemos os tapetes enrolados por baixo das portas, tudo tão bem celadinho, que agora a nossa casa está suja e quase a cair de podre. Apenas uns quantos milionários, que por um lado escravizam os seus room mates e contribuem para um certo avanço para fora desta nossa vivenda. Dizem que vamos chegar a Marte, já aconteceu o primeiro "passeio turístico" lá fora, os russos até já foram filmar um filme no espaço... Mas não vai ser a humanidade que vai chegar a Marte, não vamos ser "nós" a voltar a pisar a Lua, não vamos passear pelo espaço. Agora tudo é diferente, vai ser uma empresa a chegar a Marte, um individuo por detrás de uma ideia, seja o Musk, o Bezos ou outro... já não somos "nós", são "eles". Eles que já vivem num mundo à parte do nosso, penso que nem conseguem perceber como é que nós (sobre)vivemos. Sim, vai ser muito bom e bonito ser possível chegar a Marte ou fazer turismo no espaço, mas não é para o progresso da humanidade, isso é um efeito secundário. A humanidade não vai chegar a Marte, a SpaceX vai chegar a Marte transportando humanos. Falam falam, mas ninguém aprende com a História, já parece a EIC (East Indian Company) e a VOC (Vereenigde Oost Indische Compagnie) às turras por territórios nas Índias. O que acontecerá, daqui a cem anos, ou talvez menos, quando a SpaceX e a Blue Origen quiserem explorar algum recurso em Marte, alegando o direito de descoberta como justificação para a ocupação do território? E o que acontece quando ambas quiserem o mesmo espaço? De certo que se vão entender, fazer um acordo amigável, talvez até criar umas equipas de futebol para jogarem entre si... nada de mal poderá acontecer certo? Navegantes galácticos, arriscando o seu dinheiro e a vida de outros, pela fama e por mais dinheiro, para montar mais negócios e enriquecer mais um pouco, o novo "sonho espacial". Comprei este livro pois era baratinho... um destes homens podia comprar o meu país, pois com certeza, para ele também seria "baratinho".

Enfim, um conto tão pequenino e que me deu tanto que pensar. Já ganhaste, João Barreiros.

 

Passando para o meu conto favorito "Fantascom"! Segui-mos um autor de fantasia, Gervário Quironga, nota máxima pelo nome, que vai participar num evento de fantasia em Portugal. 

Porque é que eu leio tanto fantasia? Por onde começou esta sede de viajar para novos mundos? Pergunto-me se pode estar relacionado com o tema do conto anterior. A ficção cientifica teve o seu auge quando havia progressos na direção da descoberta de novos planetas, espécies, vida... depois, apercebemos-nos que, afinal, não vamos a lado nenhum, não vamos descobrir nada. Os autores escrevem livros que alimentam os sonhos da população, não conheço nenhum autor que escreve livros a pensar em agradar uma mão cheia de milionários. Como não vamos sair daqui por meio espacial, (com certeza, quando "o mundo acabar", os milionários terão a sua epopeia espacial, como os únicos sobreviventes daquela espécie que os servir e à qual, sem dúvidas talvez pertencessem - mas quem vai escrever sobre isso? . . . pera ai, deixa-me ir ali ao Escritório de Direitos Autorais), então (alguém se perdeu dentro de uma pausa tão grande? peço desculpas, acabei de fazer mais outra para confundir ainda mais, eu estava a dizer: "Como não vamos sair daqui por meio espacial,"), talvez apenas podemos sair para mundos que sabe-mos serem impossíveis, mundos fantásticos, onde quase sempre há humanos com que nos possamos identificar. A "humanidade" não vai chegar a Marte, ao lermos livros (ou vermos filmes e séries vá... deem uma hipótese a quem não gosta de ler) sobre a chegada a Marte, apenas pensamos como seria interessante participar nessa demanda, e daí vem uma frustração, pois a ficção cientifica puxa para o real. A fantasia cresce com o abrandar da corrida espacial (isto é uma generalização, claro, houve livros antes e depois em ambas as situações), sonhar com mundos fantásticos, com dragões, orcs, elfos e fadas não é frustrante. Sonhar com algo que é fantasioso não doí tanto como sonhar com algo que "poderia ser possível". Talvez seja por isto que gosto tanto de fantasia, quando "estou" num outro mundo, estou feliz. Claro que a fantasia não é só isto. Há muitos tipos de fantasia, há aquela fantasia que é literalmente "literatura de escape", para ler a esquecer o que acontece à nossa volta (não é uma crítica, eu percebo, e até já li bastante - até porque nem sempre dá bem para fazer a distinção até já se estar a meio de uma obra). Mas também há livros de fantasia que são muito mais que isso, não no sentido de passarem uma mensagem, isso todos passam "X é mau", "não deves fazer Y". Mas sim quando conseguem passar uma ideia, algo que marque o leitor e que faça pensar. Distingo quando um livro de fantasia é realmente especial, quando o meu cérebro obriga a uma pausa na leitura, para pensar numa questão real.

Vamos lá voltar ao conto, Gervásio Quironga é um autor de fantasia "de escape", na verdade toda a fantasia divulgada neste evento é "de escape", alguma até diria que deve ser "de coma", mas pronto. O ponto principal incide na questão de os autores produzirem livros sem alma, livros que não são pensados. A fantasia literária tornou-se simplesmente num negócio de produção e consumo, com sagas de livros intermináveis, que compelem os leitores (com certeza sedentos pela anestesia cerebral que estes livros lhes proporciona) a consumirem compulsivamente. O público é retratado como uma galinhada, são um coletivo de seres que estão presentes para comprar e desempenhar a função de "dar vida" ao evento. O nosso protagonista, vive no seu mundo, que ele próprio criou, não se abstraindo pelas casualidade do "real", o que cria uma narrativa interessante, especialmente tendo em conta o mundo que o rodeia. 

Saltando para o tema final, autores famosos estão "presos à vida" por contratos que os compelem a escrever séries intermináveis mas, na generalidade, querem morrer e terminar com este ciclo. Cabe ao nosso protagonista, impulsionado por um grupo de autores de ficção cientifica revolucionários (ou terroristas... depende do ponto de vista), terminar com a vida destes autores encapsulados. A coisa acaba por não correr muito bem... visto que Gervásio acaba por absorver toda a "empapada" dos outros autores, tornando-se numa amálgama dos mesmos que escreverá para sempre.... talvez.

Como disse anteriormente, apenas estou há dois anos no ensino (e nem sou de ensino, não tenho profissionalização), mas marcou-me profundamente tudo o que toca aos professores retratados neste conto. De facto, (estou a falar da realidade) são muito maltratados... tenta-mos tudo o que pode-mos (e o que não podemos) para ensinar, mas os alunos cada vez estão menos interessados. Quem manda na "educação", claramente não é professor. Digo "educação", entre aspas pois tenho um tio que me expôs às suas ideias sobre o sistema corrente. O meu bravo e amável tio Rui, defende que deveria ser o "Ministério da Instrução", ou pelo menos "Ministério do Ensino", que nas escolas os professores ensinam e dão instrução sobre as mais variadas matérias. A "educação", essa devem ser os pais e a família a dar em casa, na escola aprende-se, em cada educa-se. Tal como transmiti ao meu tio, concordei, assim deveria de ser, mas não o é, nem há como vir a ser. Pelo menos não de um momento para o outro. Seria preciso começar a implementar medidas gradualmente... o problema é que cada vez se aplicam medidas gradualmente no sentido oposto. Chocou-me quando recebi as instruções do ministério e li: "A retenção [até ao 3º Ciclo] é excecional.", ou seja, apenas em casos muito extremos é que se chumba um aluno. Já tive alunos a transitarem de ano com cinco a sete negativas no final do ano. O maior problema é que os alunos apercebem-se disto! Eles sabem que não precisam de se esforçar, pois passam na mesma. Se eu der uma negativa (num período ou semestre) a um aluno, lá tenho de perder umas horas a escrever um relatório onde justifico o que aconteceu, o que correu mal, e o que devo fazer para que o aluno passe a ter positiva. Caso o aluno volte a ter negativa, depois deste relatório, então tenho de escrever outro relatório a justificar onde é que eu falhei! O aluno não estudou, claramente, porque eu não tive a capacidade de o motivar, ou porque a Ficha de Avaliação Adaptada (ou seja, já simplificada) era muito complicada e que devo "diversificar" os elementos de avaliação. Para a próxima simplesmente peço ao aluno para fazer um desenho... epá ele pode não ter jeito para desenhar, é melhor talvez apenas pedir para colorir um desenho já feito. (Atenção, eu estou a falar de alunos normais de 9ºano! Não estou a falar de alunos com necessidades especiais, isso é diferente). Ou seja, o que muitos professores, que não estão para se chatear fazer é dar sempre positiva e está o assunto arrumado. Para quê estar a fazer seis relatórios para um aluno, num ano letivo, para depois a criança passar com seis negativas para o 10º ano? Recebo tão pouco, (ah mas no horário diz que apenas trabalhas 12 horas semanais - sim, sim, 12 horas de aulas, 10 horas olhar para o ar devido a furos, quantas horas em reuniões fora de hora? quantas horas a preparar as aulas em casa? quantas horas a preparar novos métodos de avaliação e a fazer uma dezena testes diferentes [depois da primeira nega, cada aluno deve ter um teste personalizado de acordo com aquilo que sabe], e em três línguas diferentes? [pois há alunos estrangeiros, que estão cá há 6 anos, mas que se recusam a aprender a falar e escrever português], isto por cerca de 600 euros por mês, menos que o ordenado mínimo... emprego de sonho realmente. O que vale, é que basta um "obrigado" vindo de um único aluno, e tudo vale a pena... na verdade nós professores simplesmente sofremos é de carência afetiva. Enfim, já me estou a esticar muito, mas falta mais uma, a educação dos alunos e, pior, a educação dos pais! Não sei o que aconteceu a estas gerações (minha geração inclusive), mas simplesmente não educam os filhos (uma generalização, perdoem-me)! É grave quando um encarregado de educação telefona, num domingo, a uma diretora de turma afirmando (obviamente de forma escandalizada) que o seu filho disse um palavrão (relembro, em casa, num domingo), e perguntando à DT como deveria proceder para o castigar e que medidas a escola iria tomar devido a esta clara "falta de educação". Se o Ministério da Educação controla as escolas, então as escolas têm a responsabilidade de educar as crianças... os pais... bem tem a responsabilidade de os fazer, pronto.

Ps: Tinha aqui apontado uma coisa interessante. Quando, neste conto, se menciona "A Patorra", livro que o protagonista está a lançar, a minha mente remete-me imediatamente para "A Manopla de Karasthan" de Filipe Faria... que honestamente, baixinho e aqui para nós, para não ferir os sentimentos de ninguém, sim... é apenas literatura de escape (e mesmo assim não lá muito boa).

 

 

Aterrando brevemente no quinto conto, "Liscon 2060", seguimos um autor que tenta apresentar a sua obra aos seus pares. Acompanha-mos Álvaro de Sousa, numa atribulada e perigosa viagem por um Portugal em 2060, uma viagem que acaba por ser um fim para o protagonista, visto o seu manuscrito ter sido rejeitado e de não ter condições para regressar. Não foi um dos contos que mais me cativou, mas tocou-me como uma representação do medo e apreensão de todo o processo de escrita, para depois tudo ser rejeitado (muitas vezes logo na primeira frase), deixando o autor "perdido e abandonado". Ainda estou muito longe dessa fase, para o bem ou para o mal, espero lá chegar um dia.

 

"Noite de Paz", é um conto natalício que me deixou profundamente perdido no começo. Fui largado de avião diretamente no meio da ação, pelo que levei algum tempo a perceber o sentido da história. Este conto trata de um assunto sobre o qual poderia escrever uns belos parágrafos, mas vou tentar evitar, já fui interrompido umas dezenas de vezes por uma mãe que acordou com os pés de fora da cama (o que acontece quase todos os dias... será que existe a doença de "refilice crónica"?). Mas, de facto, sim... cada vez gosto menos do Natal, está a tornar-se cada vez mais numa loucura consumista. Não sou daquelas pessoas que são fanáticas do "o Natal é para celebrar o nascimento do "Nosso Senhor Jesus Cristinho Amen", quero lá saber disso. Já se celebrava o solstício de Inverno antes do dito cujo nascer, depois da Igreja impor os seus ritos, simplesmente continuou-se a celebração, mas com outro nome.  Lembro-me de adorar o Natal quando era pequeno, sim gostava das prendas que recebia, mas adorava que toda a família se visitava. Eu ia sempre passar o Natal à casa da minha avó, havia sempre doces e salgados, uma lareira acesa, um ambiente diferente. Havia sempre alguns filmes para passar as tardes, não importava quantas vezes já se tinha visto o "Sozinho em Casa 2", via-se outra vez... apenas acontecia uma vez por ano. Da casa da minha avó,  ia-mos visitar alguns familiares mais afastados, e à casa da minha avó, vinham familiares visitar. 

Depois, pelo menos na minha família, algo interessante aconteceu... bateu a famosa crise de 2008. Agora, não temos como comprar presentes para todos... temos de cortar alguns da lista e, se não temos presentes, "fica mal" irmos os visitar sem levar nada, portanto nem vamos. Gradualmente, ano após ano, menos gente se junta, menos gente se vê, menos presentes se compra, mais dinheiro se poupa. Há dois anos passei, pela primeira vez o Natal sozinho com a minha mãe, cada um no seu quarto. A minha mãe a ver filmes e dormir, eu a ler ou a jogar alguma coisa. Também os meus avós ficaram sozinhos, o que entristeceu imenso a minha avó. Os presentes estragaram o Natal. Tornou-se tão comum trocar presentes, que agora admito que sinto vergonha de ir visitar alguém no Natal sem levar algum presente, o melhor é ficar isolado e passar como se fosse um fim de semana qualquer.

No conto, um grupo de agente é encarregue de assassinar o Pai Natal, a mando de grandes cooperações que fabricam brinquedos e não querem cá um velho a distribui-los de graça às criancinhas. Querem brinquedos que os comprem.

 

Algo aconteceu durante a leitura do sétimo conto "Síndroma de Abraão", não sei bem o que se passou, mas não tenho grande memória do texto. Lembro-me de ser sobre uma espécie de invasão alienígena por parte de um organismo (tipo flor ou semente) que incorporava os conhecimentos humanos numa espécie de "nuvem" do conhecimento...? Talvez, admito que já não me recordo bem, portanto vou passar à frente.


Passando para o oitavo conto: "Os Minino da Noite"... até parece de propósito, mas depois fui verificar a cópia que eu comprei para oferecer e verifiquei que tal não é o caso... a minha cópia, precisamente na página onde se inicia este conto (p. 257) vem com uma dentada. Portanto, começa bem!

Este conto, a meu ver, incide sobre o problema da integração, algo que é muito importante nos nossos dias, devido a todas as migrações para o nosso pais hoje (bem como para toda a Europa). Agora peço aos meus leitores imaginários para porem o cinto e o capacete, pois acho que vou ser "politicamente incorreto". Sou completamente a favor de aceitar-mos pessoas de fora no nosso pais, a nossa população está a envelhecer, portanto não faz mal a ninguém ter sangue novo e jovem e entrar. Há muitas pessoas que chegam e adaptam-se bem... Mas aí está a questão, "adaptam-se", mas há muitos que chegam e não se adaptam, pelo contrário recusam-se, os locais que se "adaptem" a eles. Desde que comecei a dar aulas tive já vários incidentes que me demonstraram esta problemática. Um já relatei, algures acima (já estou a escrever este texto há uns dias), quando alunos que se encontram em Portugal à cerca de seis anos, nem sabem uma única palavra em português. É mentira, acho impossível viver seis anos num pais e não saber dizer "olá"...a verdade é que se recusam a aprender. Um outro exemplo, no meu primeiro ano a dar aulas estive numa escola onde são colocados muitos alunos dos PALOP's, bem como muitos brasileiros. Os brasileiros lá se vão safando, agora os dos "PALOP's" são "PALOP's" apenas de nome... muitos são sabem falar português. Por exemplo, os alunos portugueses tem a disciplina de "Língua Portuguesa", maior parte dos alunos dos PALOP's não frequentam essa disciplina, mas sim "Português Língua Não-Materna", juntamente com os alunos do Paquistão e do Nepal (alguns dos quais que se recusavam de todo a falar português). Ou seja, a língua que aprenderam na escola antes de virem para Portugal, não foi de todo o português, tanto que estão na sala de aula de História e não compreendem o que eu digo e depois perguntam se eu posso explicar em crioulo. Mais um, eu nem tinha notado antes de me chamarem à atenção, certo dia uma professora passa pela minha aula, olha pela porta, pára um pouco, olha para mim e depois prossegue. Depois da aula, veio falar comigo a perguntar se fui eu quem sentou os alunos assim, respondi-lhe que não, eles sentam-se onde querem, ela disse "ok" e ficou por ai. Na aula seguinte é que eu notei... brancos de um lado, negros do outro! Pensei que talvez existi-se algum problema grave na turma, portanto fiz uma experiência. Os alunos, inevitavelmente, estão constantemente a falar uns com os outros, portanto aproveitei a oportunidade para mudar uns quantos de lugar. Pedi a um aluno negro para mudar para o lugar ao lado de um aluno branco, ele protestou (mas isso é normal, os alunos não gostam nada que os mandem mudar de lugar), mas lá se foi sentar onde o mandei. Depois pedi a um branco para ir para o lugar do que se levantou, ele protestou (como é natural), mas o que me surpreendeu foi que alguns dos alunos negros também protestaram "não o queremos aqui", tentei forçar a situação, mas nada, portanto acabei por o colocar no lugar de uma aluna branca, com quem todos da turma se davam relativamente bem, e mandei ela ir para o tal lugar... e alguns alunos negros continuaram a resistir, fazendo com que a aluna ficasse hesitante em se dirigir ao novo lugar. Acabaram por ter de ceder, porque eu não cedi mas, no final da aula, uma aluna veio falar comigo e explicou que eu não devia fazer aquilo, pois eles já tinham sofrido tanto por causa da "nossa" raça que agora querem estar com os seus. Depois à saída da sala, lá estava a tal aluna que mudei de lugar, disse-me que não se importava de onde se sentava mas que sabia que uma parte da turma não se sente confortável ao estar ao lado de "brancos"... Ou seja, um grupo de alunos basicamente impôs uma segregação dentro daquela turma. Atenção, não são todos assim, havia outros alunos que realmente eram todos iguais, todos unidos, todos amigos, não se dividiam por questões seja do que for. 

Portanto acho que a segregação é um grande problema, sendo que, muitas vezes, são os próprios grupos que se auto-segregam. Por exemplo, os meus avós, emigraram para a África do Sul, tiveram lá mais de 20 anos e... não sabem uma única palavra em afrikaans ou mesmo em inglês, nunca comeram comida sul africana, nunca se integraram na cultura local! Desde que chegaram tiveram sempre vizinhos portugueses, sempre e frequentaram "clubs" portugueses e sempre comeram em restaurantes portugueses. Viveram quase do outro lado do mundo, mas nunca saíram de "um Portugal". Hoje acontece a mesma coisa no nosso país (claro, generalizando, nem sempre é assim), temos comunidades brasileiras, angolana, cabo-verdianas... normalmente a viverem no mesmo bairro, onde tentam criar uma réplica do seu país. Ou seja, auto-segregam-se da população e cultura local. Tal, claro, só origina conflito, tanto entre os locais e os imigrantes, como entres os diversos grupos de imigrantes... depois temos guerras de gangues angolanos e brasileiros nas ruas de Lisboa. Enfim, é um grave problema, e honestamente não sei bem como pode haver solução. A solução prática e radical é terminar com os aglomerados de imigrantes e espalhar as pessoas entre os nativos portugueses... mas assim estamos literalmente a retirar a liberdade de escolher onde viver, por exemplo, o que não é correto. Ambos os lados tem de ceder um pouco para acalmar os extremos.


Enfim, avançando, para o nono conto "Por amor à prole", achei interessante, apesar de não ser um dos meus favoritos, gostei da ideia de uma "Mãe Gaia" e das mutações que basicamente transformaram os homens em lobisomens, mas não tenho muito a dizer sobre este.


No décimo conto, "Por detrás da Luz", temos um protagonista que viaja no tempo...? Mais ou menos, para uma Lisboa que sofreu uma catástrofe. Um texto inspirado nos contos de Lovecraft, devo dizer que também não foi dos que mais me inspirou, e, visto que esta rant já vai longa (e que já vejo um que vai dar mais trabalho ali à frente na lista), vamos avançar.


"Se Acordar antes de Morrer", finalmente o conto que deu título ao livro. É um conto interessante, onde segui-mos um robô com inteligência artificial cuja função é a distribuição de presentes (brindes publicitários basicamente), dentro e arredores de um centro comercial. Contudo, todos os humanos (quase todos) tornaram-se zombies. Devido a esta circunstância, a IA do nosso protagonista não consegue compreender como lidar com a situação, sendo que até descarta o único humano que encontra, devido ao seus aspecto.


Agora sim... vamos para o décimo segundo conto, intitulado "O Teste". Pronto, preparem-se que vou-me, novamente, alargar um pouco. Segui-mos um professor que está a caminho da escola para dar teste aos seus alunos. Ainda em casa coloca uma série de proteções físicas, para se salvaguardar até chegar à escola. E é basicamente isto... mas abre espaço para discutir muitos tópicos. Vou-me limitar a um... (visto que já abordei o mesmo assunto algures lá para cima), a constante simplificação das matérias. Antigamente, quando os animais falavam provavelmente, os alunos tinham quatro blocos de História por semana. Vamos falar especificamente da História, pois é a disciplina que leciono e, por consequência, sobre a qual estou mais apto a discursar. Quando eu andei no 3º Ciclo, já só tínhamos três blocos de História por semana, e os professores viam-se gregos para dar a matéria completa. Nestes dois anos de ensino (na verdade só agora fez um ano, mas estou já no segundo... portanto), os meus alunos apenas tem dois blocos de História por semana! A matéria continua a mesma... desde a pré-História até à atualidade em três anos. Portanto com é possível dar a mesma matéria em metade do tempo? Pois bem, o Ministério da "Educação" apresenta *drum roll* as "aprendizagens essenciais"! *clap clap clap* Ou seja, o que é considerado essencial que os alunos saibam (ou melhor, não o que eles devem saber, mas sim o que o professor deve abordar - pois na verdade eles não vão perceber nada). Nestas aprendizagens essenciais vamos apenas tocar (sim só um toquezinho, não há tempo para mais) nos pontos que consideramos mais importantes para a História da Humanidade! Assim os alunos não precisam de meter coisas inúteis na cabeça, absorvendo apenas o mais importante!

Qual é o problema desta trapalhice? Bem, é que em algumas disciplinas isto é claramente possível (os profs não gostam, claro, mas é possível), por exemplo na disciplina de Ciências Naturais, temos de dar uma série de tópicos, se temos de cortar um tópico, pronto, não há problema, apenas é uma pena os alunos não ficarem a saber isto ou aquilo. Não temos tempo para dar os minerais... pronto, os alunos também não precisam de saber isso para perceberem o sistema reprodutor humano. Agora na História... os acontecimentos são uma linha contínua... se vamos cortar esse linha aos pedaços e fazer colagens.... bem, o resultado é que os alunos não percebem nada, pois cada tópico parece um evento isolado (quando, na verdade não o é). Por exemplo, estou neste momento a dar a Primeira Guerra Mundial aos alunos do 9º ano, um dos últimos assuntos que abordei foi a questão da Alsácia e da Lorena, que se encontravam sobre o domínio do Império Alemão, mas que a França queria recuperar. E está instaurado o problema! Da última vez que os alunos viajaram por esta região (os que não estavam a dormir no final do ano anterior), foi durante as guerras Napoleónicas mas, no final a França controlava esta região da Alsácia e da Lorena! Então como raio é que isto foi parar às mãos da Alemanha? E já agora (diria algum aluno excecional e claramente imaginário), que raio de Império Alemão é este? Da ultima vez que olhámos para o mapa não havia Alemanha nenhuma! Pois bem, o que acontece é que a matéria que abrange os finais do século XIX aborda exclusivamente a industrialização, cultura e arte. A Guerra Franco-Prussiana desapareceu, não está sequer referida nos manuais... portanto a Alemanha apareceu do nada, a Itália caiu do céu e os territórios da Alsácia e da Lorena devem ter estado encobertos por nevoeiro, isolados do resto do mundo, até 1914... porque não há tempo para explicar tudo o que aconteceu, pois já devia-mos estar na página 200 e estamos na 20! (Eu tento dar uma versão extremamente simplificada dos acontecimentos, mas os alunos precisavam de mais tempo para entenderem estes assuntos). 

Foi apenas um exemplo, isto é uma bola de neve que se arrasta desde o 7º até ao 9º ano, sempre a cortar, sempre a saltar acontecimentos... não admira que, cada vez mais seja "moda" não gostar de História"... até porque é uma disciplina de "terceira categoria". Primeiro temos o Português e a Matemática, com quatro a cinco tempo por semana. Depois, em segundo lugar, temos as Ciências Naturais, Fisicó-Quimicas, Inglês, Espanhol, e o raio do Francês e Educação Física. Depois a de "terceira classe", onde temos as artes, a História e a Geografia... ainda há as de quarta classe, como cidadania, religião e moral e saber ciência/arte (se bem que esta última é basicamente mais um tempo para as artes e para as duas ciências cientificas. A História e a Geografia, (as ciências sociais), relegadas para baixo, sem tempos letivos (já ouvi de escolas onde são disciplinas semestrais, ou que apenas têm um tempo letivo), ou seja, irrelevantes. De qualquer maneira os alunos não podem chumbar... portanto para que tentar entender o passado? Depois quando forem adultos juntam-se a grupos extremistas... porque nunca nada de mal aconteceu envolvendo grupos extremistas. ¯\_(ツ)_/¯

Enfim, este fim de semana estive a preparar os testes para os meus alunos e senti-me inseguro, tal e qual como o protagonista deste conto. "Será que eles vão conseguir responder a esta pergunta? Talvez seja melhor simplificar aqui e ali. O que importa é que todos tenham positiva, se há muitas negas vou ter de prestar declarações às diretoras de turma e escrever relatórios. O receio constante de ser julgado consoante as notas dos meus alunos, se os alunos tem más notas, claramente a culpa é do professor. Portanto tenho de fazer um teste que garanta que pelo menos a maioria tenha positiva, para puder usar o argumento "ah, mas todos estes conseguiram ter boa nota, se os restantes não conseguiram é porque não estudaram"... caso contrário estou feito! É que depois tenho de meter as notas dos alunos no meu próprio relatório de avaliação, e depois sou avaliado por uma pessoa que nem nunca me viu na vida consoante esses resultados! Tenho de simplificar ainda mais, os alunos tem de ter boa nota, ou então os pais vão ralhar comigo!" Eis o que me passa pela cabeça quando estou a preparar um teste. E entretanto já voltei ao documento para simplificar mais umas coisas, cortar umas perguntas e colocar mais umas dicas. Para além disso já preparei tudo para dar uma aula de revisões onde vou lhes dizer as perguntas e respostas uma por uma, com tempo e calma para tirarem apontamentos...

É incrível... mas é a realidade. E sei que não sou só eu, que não sou profissionalizado. Os outros colegas fazem o mesmo, os mais velhos dizem mesmo "não estou para me chatear" portanto fazem tudo o mais simples possível, para terem menos problemas (porque problemas há sempre... há sempre um aluno que não estuda ou mesmo que não escreve nada no teste) com os pais e com os relatórios. 

E quanto mais se simplifica, menos os alunos se esforçam, portanto ano após ano o ensino vai se "simplificando", e, muitas vezes, quanto mais simples são as matérias, mais confusas são. Portanto deixa-mos de encorajar que os alunos percebam as matérias, e apenas imploramos para que decorem o mínimo possível. Não sei onde isto vai parar João Barreiros, mas olha que esta ficção científica não me parece nada improvável. 


Vamos lá avançar que já se faz tarde, abri hoje de manha este documento e são quase 19 horas e ainda aqui estou. "Sincronidade" é o título do décimo terceiro conto. É interessante a ideia de enviar uma parte da consciência de um individuo para explorar um planeta distante, sendo que o protagonista vai viver as duas realidades em "sincronia".

 

Para décimo quarto e penúltimo conto passamos "Uma Noite na Periferia do Império". Aqui uma espécie alienista de "Poupas", sim aquele Poupas da Rua Sésamo... também nunca achei muita piada. Mas, tal como a minha madrinha diz com ternura: "tu sempre foste velho". 

Basicamente um embaixador desta espécie evoluída vem visitar a Terra e trás consigo um "assistente", quase considerado como animal de estimação, que é um hominídeo (têm polegares oponíveis), pois a grande ave não tem como desempenhar algumas funções básicas (assim consideradas por nós humanos). Portanto a sua espécie intelectualmente superior, basicamente escravizou outras espécies para que estas completem certas funções. Tal como é natural. Da mesma perspetiva, também nós escraviza-mos as outras espécies no nosso planeta para desempenharem certas funções, cavalos, vacas, cabras, galinhas, cães... gatos (ai ai... já lá vamos). No final do conto, o ser inferior é libertado do jugo do seu dono, por um grupo de humanos, e volta a ser apenas um animal, sem o propósito de servir o seu dono.

A meu ver, demonstra uma visão sobre a relação do ser humano com as espécies que nos rodeiam, a probabilidade de uma galinha domesticada sobreviver após ser libertada é muito pequena. Tal como os Croap'tic manipularam a espécie de Chirptic para os servir, também nós manipulámos várias espécies de animais de forma a nos servirem. É triste, mas muitos destes animais não sobreviveriam no mundo selvagem (qual "mundo selvagem"? A probabilidade é morrerem atropelados 10 minutos após serem libertados).


Para finalizar, vamos para "Um Homem e o Seu Gato", ou, como eu prefiro: " O Céu dos Gatos é o Inferno dos Pardais". E devo começar por declarar que nunca tive um gato... acho que teria apreciado muito mais este conto caso já tivesse tido o privilégio.

O Senhor Luvas é uma personagem impecável, cada comentário seu é a representação exacta do que eu imagino que passaria pela mente de um gato. A minha amiga "têm" gatos... e é essa a impressão que ela passa, na verdade os gatos têm na a ela.


Descobrir estes contos de João Barreiros foi uma surpresa para mim. São contos que requerem uma leitura atenta e que apelam à reflexão. Não pude estar aqui a filosofar sobre todos, caso contrário tinha de tirar uma semana de férias (e não tenho direito a isso neste profissão). Foi um belo achado que me proporcionou quinze belas viagens pela mente de João Barreiros. Deu-me vontade de ir ler o "Terrarium", para me graduar de contos algo maior e talvez mais complexo. Mas não é para já, já tenho uns outros livros em lista de espera (se bem que a lista de espera vai mudando consoante os dias). 

Bem, acho que este foi assim para o grande, com muita, mas mesmo muita, rant pelo meio. Peço desculpa a quem por azar alguma vez leu isto. Agora acho que vou olhar para o botão de "enviar" no email que já preparei para pedir à reprografia para imprimir os testes dos alunos. Mais uma dor de cabeça... e se a senhora da reprografia (que já é velhinha) desconfigurar aquilo tudo? Enfim...


sábado, 28 de agosto de 2021

"O Regresso dos Deuses - Rebelião" de Pedro Ventura | Agora sim, que grande aventura!

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 

 Epá... não estava à espera. É que não estava mesmo à espera desta! Que LIVRÃO! Este, comparado com os Goor, está extremamente melhor! Aliás, atrevo-me a dizer que está ao nível de grandes autores internacionais. Este sim é uma obra prima! (Não a capa contudo... acho que a capa merecia um pouco mais de amor e carinho.)

Contudo, continuo a ser da opinião que falta um mapa... por vezes é complicado uma pessoa se orientar no meio de tantas cidades e reinos.

 Neste livro a Calédra "volta" (nunca foi totalmente, mas pronto... pormenores) à vida, umas gerações depois e tem de resolver uma problema. Premissa simples, mas que se torna extremamente complexa com o desenrolar da história. O ponto mais positivo de todos é que já não há cá Fealgar para ninguém... portanto já não há personagens femininas à batatada para ver quem fica com ele (onde Calédra esteve incluída nos Goor)! Agora sim, Calédra pode ser uma personagem verdadeiramente forte! É uma personagem que não se encaixa no típico perfil de heroína, nem de vilã. Faz o que tem de ser feito para atingir os seus objetivos.

A escrita e organização do texto também estão muito mais "domadas" quando em comparação com os Goor. Provavelmente devido à editora Presença. O livro não é de todo confuso, sendo dividido em 28 capítulos. A linguagem continua completamente acessível, melhorada até.

O enredo é espetacular, eu já sou conhecedor de vários "tropes", portanto muitas vezes consigo prever o que vai acontecer numa história... contudo, em "O Regresso dos Deuses - Rebelião" fui constantemente surpreendido!

 Para além de Calédra há imensas personagens interessantes, desde Marávia, Cartina, Advark e Garleana até Delkon e a sua família e ao podre do Marden. 

Caramba... tenho mesmo um grande defeito de fabrico... quando a coisa é boa não consigo escrever. É por isso que normalmente apenas escrevo "rants".

Até agora, apesar de não ser completamente perfeito (mas haverá algo totalmente perfeito?), é o melhor livro de "fantasia" português que já li!  5/5 

Parabéns e obrigado Pedro Ventura. Por onde será que andas desde 2011... haverá alguma continuação ou uma outra história para contar?

 

domingo, 22 de agosto de 2021

"Goor - A Crónica de Feaglar II " de Pedro Ventura | Beijinhos e chouriço

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 

 Bem... sinto-me um pouco desapontado. Contudo vou começar pelos pontos positivos. 

Tal como no primeiro volume, tenho de mencionar que a capa é excelente, muito original e encaixa-se bem dentro do tema do livro.

A história começa, onde o primeiro volume nos deixou, no início da viagem para Goor. Digamos que as primeiras 180 páginas (mais ou menos), são dedicadas a esta viagem e à exploração de um território desconhecido. E aqui começa a minha rant...

Então, no primeiro volume é nos transmitido que a história " Trata-se de uma fantástica aventura do rei e dos seus companheiros, que os levará aos limites das suas capacidades e aos confins do mundo conhecido, enfrentando inúmeros perigos e a herança de um nebuloso passado que foi propositadamente apagado da memória de todos os povos.". Contudo, nesse primeiro volume, apenas acompanha-mos a preparação para tal viagem, 290 páginas de preparação. Agora, estava à espera que este segundo volume se dedicasse à aventura em si... mas não, a viagem, apesar de longa para as personagens, é bastante encurtada na narrativa, quase dedicando-se mais a um triângulo amoroso (já lá vamos) do que à exploração e aventura! Em cerca de 180 páginas essa aventura acaba e agora as restantes são dedicadas a todo o conflito que resulta da expedição. Portanto (indo à calculadora, porque conta de cabeça não é comigo), de 750 páginas de "Goor - A Crónica de Feaglar", apenas cerca de 180 páginas se dedicam ao caminho para Goor, menos ainda à exploração de Goor (sendo estas subtraídas a essas 180). Porque não intitular os livros de "A Crónica de Feaglar", deixando cair o "Goor"? Fazia mais sentido para mim.

Novamente, como no primeiro volume, a organização do texto é terrível, talvez ainda pior! Neste segundo volume, temos apenas um capítulo: "A viagem para Goor", ocupando todas as 460 páginas do livro, sem uma única quebra/espaçamento entre parágrafos (veja-se a rant anterior, sobre o primeiro volume, para mais sobre esta problemática). Para além disto, consigo perceber o porquê da Papiro Editora não ter tido sucesso. Apesar de escrita ser acessível, há inúmeros pequenos erros (coisas simples como usar singular onde devia de ser o plural e a troca de género das palavras), não estragam de forma alguma a narrativa e não são culpa do autor. É perfeitamente normal estes enganos acontecerem durante o processo de escrita. Mas demonstra a falta de uma atenta revisão por parte da editora. A agravar, encontrei também vários problemas de continuidade, por exemplo, a certa altura, Feaglar desembainha duas espadas (tendo as duas mãos ocupadas), dispara uma besta (requer duas mãos) e depois diz a Galana que têm de fugir pois ele apenas têm uma espada... tudo dentro da mesma cena.

Agora, voltando às tais cerca de 180 páginas de aventura e exploração valem a pena? No começo sim, a primeira parte da expedição é bastante interessante e empolgante, onde se entra em contacto com duas tipologias de novas criaturas e observamos como as personagens lidam com as dificuldades da viagem. Todavia, tudo isto começa a se desmoronar quando Gar-Dena pede para se afastar durante uns dias, pois precisa de estar sozinha... o seu valoroso e fiel marido, rei Feaglar, fica muito triste, portanto, uns dias depois, já está numa relação com Calédra... Enfim, tal como já tinha dito na rant anterior, Feaglar é um péssimo rei, e agora digo que até é mau amigo e companheiro. Apesar de o autor/narrador enaltecerem a personagem sempre que possível, esta personagem (que é a personagem principal) é extremamente egoísta, pondo os seus desejos acima de os de toda a gente à sua volta. As restantes personagens aceitam tudo o que ele faz, basicamente porque o autor as criou para isto. Já volto ao Feaglar.. aproveito a pausa (coisa que este livro não faz, tal como o primeiro volume), para explicar que não tenho nada contra o autor, Pedro Ventura, até o admiro por ter conseguido escrever e publicar livros em Portugal, espero eu, um dia, conseguir tal feito.

Voltando à questão da viagem, um exemplo do quão pouco explorada a expedição para Goor aparenta ser: em toda a exploração destes novos territórios as personagens apenas encontram duas criaturas, uma num pântano, e outra humanoide que depois serve como uma infindável fonte de "minions do mal", para o "Senhor da Trevas" - já lá vamos... Tudo poderia ser muito mais explorado e desenvolvido, em vez de estarmos a acompanhar Feaglar e Gar-Dena aos beijinhos e abraços, e Feaglar e Calédra aos beijinhos e abraços. A quantidade de "beijos" neste livro é descomunal, Feaglar é um distribuidor de beijos para mulheres (só as bonitas claro - interessante como sempre que uma personagem feminina é apresentada é descrita fisicamente de acordo com a sua beleza; quando uma personagem masculina é apresentada, "bem, este é o Manel", e pronto está feito). Pena que não tive esta ideia antes, podia ter contado a quantidade de beijos que o Feaglar deu a cada personagem, seria um estudo interessante... tarde demais agora.

Devido a este fatores, fiquei com a impressão que, após a chegada e partida de Goor, o enredo perdeu-se um pouco, passando a "encher cada vez mais  chouriço" com cenas irrelevantes. O objectivo inicial era chegar a Goor e acabar com os planos de Calicíada, contudo, as personagens falham esta meta e Calicíada regressa ao seu reino, cheia de novos poderes e com a capacidade de controlar as criaturas humanoides que foram apresentadas anteriormente. Isto agora leva-me a analisar os vilões da história. Calicíada (que na verdade estava possuída - ou algo do género - pelo espírito de um aurabrano mau "do antigamente") tem como objectivo o fim dos humanos porque... bem... porque é a má da fita, portanto tem de fazer coisas más. Mesma coisa mais tarde com Muthul (se não me engano), é mau e faz coisas más, porque é mau. Nenhum deles apresenta um plano ou agenda própria, apenas existem para serem os maus da fita.

Pior ainda é a derrota de Calicíada, que deveria ser o pico da narrativa. Tal ocorre dentro do seu palácio, onde a mesma tem um típico discurso de vilã, e luta contra Feaglar sozinha (Gar-Dena está mesmo ali ao lado, armada e pronta, mas não interfere para não estragar a cena). Depois de Feaglar ser derrotado, mas não morto, é claro, porque Calicíada quer que ele sofra (típica desculpa para não matar a personagem principal), Gar-Dena larga as suas espadas e lança-se contra Calicíada completamente desarmada. Morre quase instantaneamente e nesse momento algo especial acontece... os holkan, espécie de divindades ali da coisa, ao verem a sua preferida morrer, engasgam-se com uma pipoca, deixam cair o copo de coca-cola, a sua mãezinha assusta-se e pergunta-lhes "o que se passa fofinhos?" e começam a refilar para a televisão e para a mãe que é uma grande injustiça aquela personagem morrer, pois era a sua absoluta favorita e que assim não podia ser! Não há mais condições para trabalhar, estudar nem ajudar a pôr a mesa! Portanto decidem intervir e acabar com aquela brincadeira, dão um discurso fofinho sobre como a humanidade é que é boa, retiram todos os poderes a Calicíada e dão-lhe uma palmada psicológica. Depois, Feaglar levanta-se, simplesmente avança até Calíciada e corta-lhe a cabeça. E assim os holkan sentaram-se novamente a ver o resto do episódio, enquanto a mama limpava a coca-cola e as pipocas do chão. 

Muito sarcástico, peço desculpa... mas isto representou o culminar da minha paciência com o livro. O enredo principal é resolvido com um grande deus ex machina! Os holkan podiam ter intervido a qualquer altura para resolver a situação, evitado todo os problemas dos dois volumes. Mas apenas o fizeram quando Gar-Dena, literalmente, se suicidou. Não faz sentido, não demonstra criatividade, retira valor a todos os sacrifícios, nada importava, apenas a vontade daqueles seres divinos.

Enfim, depois disto ainda temos quase mais 200 páginas, onde as personagens tentam terminar com o que resta da guerra, no final temos mais uma espécie de deus ex machina, mas este não é dos piores. Simplesmente é um pouco conveniente demais para ser credível: quando os exércitos de Feaglar estão em apuros e tudo parece perdido, lá aparecem reforços inesperados que salvam o dia. Mas maior parte destas restantes páginas são dedicadas ao amor de Feaglar e à dor de perder Gar-Dena (epá, não sei, durante a viagem para Goor, ela ausentou-se durante uns dias e ele já estava enrolado com outra...). Desde que Gar-Dena morreu que era óbvio que Galana a iria substituir, basta ver pela quantidade de beijinhos que Feaglar lhe dá. Portanto nada de novo ou inesperado ai. Sinto que o final foi extremamente esticado.

Tal leva-me a outro ponto. Quando estava a pesquisar sobre os livros, ainda antes do os começar a ler, algo que se destacava eram "as personagens femininas fortes". Desenganem-se... sim, há personagens "fortes", Calédra e Gar-Dena são "fortes"... se levas um murro de uma delas vais parar à lua, mas a "força" acaba por ai. Ambas apenas querem (desculpem a linguagem crua) a pila do Feaglar. Estas duas personagens poderiam, possivelmente derrotar Calicíada, se trabalhassem juntas... ambas sabem e admitem isso (e tal tornaria a história mais interessante, sendo uma aliança entre as duas o que levaria à vitória, em vez de um deus ex machina). Contudo, o foco de ambas é matarem-se uma à outra (acabando por resultar na morte de Calédra), porque ambas querem saltar para o colo do Feaglar. São poucas as personagens que posso considerar "fortes", sejam femininas ou masculinas, e todas elas secundárias ou terciárias. Thalian, e Odralgar são interessantes, Galana pode ser considerada (já tinha esta opinião na rant anterior) a única personagem feminina (que mais se aproxima das personagens principais) a ser considerada forte. 

Terminando agora, novamente com Feaglar, a minha opinião mantêm-se (ou até mesmo agrava-se). Feaglar é um mau rei, mau marido, mau pai, mau homem... contudo é retratado como o herói da história. Ele não é fiel, apenas se preocupa consigo e com os seus sentimentos, pensa que o mundo gira à sua volta, é rude, incessível  e agressivo para com os que estão à sua volta... mas não faz mal porque depois dá muitos beijinhos e pede muitas desculpas... portanto tudo fica bem e viva Feaglar. Enfim... não estou contra a personagem ser e agir assim, não tem mal nenhum retratar uma pessoa assim como personagem principal da história, agora o que não fica bem é o tom do narrador/autor (que é totalmente omnipresente) que enaltece sempre Feaglar como um modelo a seguir. Sim, Feaglar faz coisas consideradas da praxe como sendo "do bem"... como preocupar-se com os pobres e com a criancinhas. Mas depois toma decisões que claramente os entalam por trás... mas tal não é explorado no enredo.

Acho também um pouco estranho a forma como as pessoas dos diferentes reinos humanos são retratadas. É sempre utilizado o termo "raça", os nilmec são uma raça, tal como os tendra e os dhorian... cada "raça" tem o seu reino e aparentemente, até ao desenrolar da história, estas "raças" não se misturam muito... o que é um pouco estranho, pois o "mundo" não parece ser assim tão grande, portanto os vários povos ("as várias raças") deveriam interagir mais entre-se e ter menos diferenças tão enraizadas. É um pouco estranha esta divisão em "raças"... mas pronto. Um mapa ajudaria imenso a entender este mundo... honestamente muitas vezes senti-me completamente perdido, sem saber onde as personagens estão, que reinos estão a Norte, Sul, e quais fazem fronteira com X e Y.

 

Em geral, sai desapontado de Goor. Posso dizer que até gostei mais de Allaryia e que agora percebo o porque de esta saga não ter tido sucesso. Ainda me falta agora ler "O Regresso dos Deuses: Rebelião", já desfolhei e parece que se foca apenas em Calédra, muitos anos depois.. vamos lá ver o que sai daqui. pelo menos parece mais organizado (não esperava outra coisa de algo publicado pela Presença), vamos ver se conseguiram "domar" o autor.

Nas primeiras 100 páginas do livro, estava convencido que lhe daria um 4/5, mas é me impossível. No primeiro volume perdoei muita coisa para dar um 3/5, aqui repete-se o mesmo. Não tenho coragem de atribuir um 2/5 devido a um sentimento de "camaradagem" para com um autor português. Este livro precisava de ser revisto e editado, muitas coisas cortadas e modificadas, talvez até de forma a incorporar apenas um volume. 

Ainda não decidi se parto já de seguida para o próximo, ou se vou ali a Westeros primeiro (arranjei o Fire and Blood uhuhuhuh).


Ps: Ao ler as reviews de outros leitores, por vezes pergunto-me se li os mesmo livros.


sábado, 14 de agosto de 2021

"Goor - A Crónica de Feaglar I " de Pedro Ventura | "DIVIDE ET IMPERA"

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

    Bem... isto não foi bem o que eu estava à espera.
    Primeiramente, antes de começar aqui a choramingar, adquirir este livro foi uma epopeia! À uns anos atrás, após ter lido o Hobbit e o Senhor dos Anéis, não sabia bem por onde continuar as minhas leituras fantásticas. Nestas circunstâncias, embrenhei-me num conjunto de blogs estrangeiros à procura de uma caminho viável a seguir. No meio de tantas opções, ocorreu-me que talvez devesse experimentar também alguns autores nacionais, foi aqui que a minha demanda me levou a três nomes: Filipe Faria, Sandra Carvalho, e Pedro Ventura. De todos o que me chamou mais a atenção foi mesmo o Pedro Ventura, até porque apresentava um leque mais reduzido de livros publicados (apenas três), dando-me assim a oportunidade de começar por uma saga mais pequena, em vez de me atirar aos sete (agora oito) livros das Cronicas de Allaryia, ou aos oito livros da Saga das Pedras Mágicas.
    Foi ai que surgiu a primeira problemática. Dos três livros de Pedro Ventura, os primeiros dois são uma duologia: Goor - A Crónica de Feaglar I e II, publicados em 2006 e 2007, respetivamente, pela Papiro Editora, sendo o outro: O Regresso dos Deuses - Rebelião, publicado em 2011 pela Editorial Presença. Pelo que entendi, neste momento apenas ainda li o "Goor - A Crónica de Feaglar I", a duologia Goor representa a história principal, sendo o livro mais recente uma continuação ou espécie de spin off. Portanto o meu objectivo sempre foi começar pelo primeiro livro de Goor... Contudo, apenas encontrei à venda o livro mais recente, publicado pela Presença. Após alguma pesquisa, fiquei a entender que a Papiro Editora fechou ou foi à falência, sendo que os livros de Goor ficaram "aprisionados" numa Editora que já não existe. Portanto comecei a procurar por outras opções de compra dos livros, cheguei até a enviar um email, supostamente ao autor, a partir de um endereço que encontrei num blog, com a intenção de adquirir os livros diretamente... nunca obtive resposta (acho que deve ter sido à uns dois anos atrás). Entretanto fui procurando online em sites como Custo Justo e OLX. Consegui primeiro adquirir o segundo volume e, apenas agora, à cerca de um mês, é que consegui, finalmente, adquirir o primeiro volume.
    Como primeira impressão, devo admitir que as capas da duologia "Goor" são lindas! Parecem-me extremamente originais e dão um aspecto místico ao livro.
    Agora o texto em si... não é bem o que eu esperava. A linguagem empregue é acessível, qualquer leitor pode ler este livro, contudo a organização do texto faz-me um pouco de impressão. Este livro têm 290 páginas... divididas em apenas três capítulos, sendo que um deles é o "Prelúdio" de apenas 14 páginas. O segundo capítulo, "Gar-Dena" têm 114 páginas e, o terceiro e último capítulo têm 153 páginas. Dentro de cada um destes capítulos o narrador segue várias personagens, em vários locais diferentes, sem nunca demonstrar uma barreira (pausa) na página. Eu que me queixava de os livros do Filipe Faria terem capítulos longos... o Pedro Ventura chega aqui e rebenta com a escala. O que me assusta ainda mais é que, tendo aqui à minha frente o segundo volume de Goor... parece-me que todo o livro é apenas um capítulo de 460 páginas... enfim, isso depois vamos ver. Agora, qual é o problema disto? Para mim, o livro carece muito de pausas, como leitor sinto-me sufocado pela quantidade de texto consecutivo. Não sei bem como expressar este sentimento... olha, vou editar toda esta "rant" para que esteja no mesmo formato que este livro. Olhem para os aspecto de um dos meus outros textos e depois voltem a este. Vão reparar que os pequenos espaçamentos entre alguns parágrafos fazem toda a diferença. Quando mudo de assunto, deixo um espaço, indicando ao leitor (mas ninguém lê isto ;-; ) que o assunto vai mudar, e oferecendo uma curta pausa para reflexão, um cházinho ou um xixi... Pessoalmente eu tento parar as minhas leituras no final de um capítulo, quando tal não é possível, paro numa destas pausas ou mudanças de assunto. Em Goor I, não tinha nenhuma indicação visual de onde poderiam estar estas pausas, tal como este presente texto, é tudo de seguida, o que torna o texto mais confuso. Mas enfim, custou um pouco mais mas lá se leu.
    Ainda antes de passar ao enredo, gostava de referir que qualquer um destes livros carece de um mapa. É um mundo fantástico e novo, cheio de reinos e localidades misteriosas... sem um mapa fico um pouco perdido, consigo imaginar mais ou menos onde se localiza cada reino, talvez... mas um mapa é essencial. Mesmo que seja um mapa todo torto, feito à mão pelo autor (eu também não tenho jeito nenhum para o desenho), qualquer coisa é melhor que nada.
    Passando finalmente para o enredo... não era bem o que eu estava à espera (acho que já disse isto umas três vezes). Passo a transcrever uma frase que se encontra na descrição do livro: " Trata-se de uma fantástica aventura do rei e dos seus companheiros, que os levará aos limites das suas capacidades e aos confins do mundo conhecido, enfrentando inúmeros perigos e a herança de um nebuloso passado que foi propositadamente apagado da memória de todos os povos."  Muito bonito, mas a palavra chave nesta frase é "levará". Todo este primeiro volume é como uma grande introdução, onde se apresentam e se fica a conhecer algumas das personagens que irão na viagem até Goor. O livro literalmente termina quando estão prestes a partir nesta mesma viagem, que é o motivo central da história. Viajámos sim... entre os diversos reinos, mas não como pontos de passagem para o destino final, durante grande parte do livro o destino final nem está definido. Portanto acho que não há muito que eu possa escrever sobre a "fantástica aventura" até aos "confins do mundo conhecido"...  ¯\_(ツ)_/¯
Grande parte do livro foi dedicado ao amor entre Feaglar e Dar-Dena, em pequenas doses até era fofinho, mas chegou a um ponto em que parecia que já estava a enrolar demasiado com o beijinho para aqui, abraço para ali a toda a hora, enquanto assuntos importantes e mais relevantes para o enredo podiam ter sido mais desenvolvidos. Depois, pelo meio, parece que as personagens andaram a fazer "side-quests". Isto dá-me a sensação que, na verdade, Goor deveria originalmente apenas ser um livro. E que, seja a editora ou o autor, o dividiu em dois, deixando o motivo principal no segundo volume e enchendo bem o chouriço do primeiro volume, de forma a que tivesse páginas suficientes para justificar uma publicação separada. Mas enfim, isto é só o que me pareceu.
 O Odraglar é a personagem que mais me interessa, sendo que o conflito entre Thalian e Thuron também é interessante. Feaglar não me está a cativar muito, apesar de ser retratado como um "bom rei", não me parece que seja muito astuto (não parece definitivamente saber jogar o "jogo dos tronos"), comete o mesmo erro duas vezes, em não procurar o corpo de Banstámas. Gar-Dena também não me parece muito natural, sendo uma personagem extremamente forte fisicamente, mas depois têm momentos de extrema fraqueza em que é retratada como uma frágil jarra de vidro. Já Banstámas/Calédra tornou-se interessante apenas no final deste volume. Calíciada é um enigma por desvendar.
    Enfim, é complicado dar uma nota a um livro que é basicamente a introdução para outro. Portanto fica por um 3/5. Tenho esperanças que o segundo volume, que vou começar a ler amanhã, realmente comece no trilho da demanda por Goor.

 

(Não foi um texto muito grande... mas espero que se perceba a problemática da falta de espaçamentos).