segunda-feira, 12 de outubro de 2020

"Crónicas de Allaryia: A Essência da Lâmina", by Filipe Faria. | Improvements!

Passaram-se quase oito meses desde que li um livro de Filipe Faria. Apesar de já ter a sequela na prateleira, não senti motivação para continuar, tendo-me perdido por outra leitura pela depressiva tarefa da dissertação de mestrado (que ainda não está concluída mas, se não leio um pouco de ficção à noite, dou em maluco).

Contudo, nestes meses depressivos, (não pelo confinamento, mas pela preocupação relativamente a certos elementos da família - e devido à tese... sempre a dita tese...) acabei por adquirir os restantes livros das "Crónicas de Allaryia", incluindo o livro mais recente, publicado em Agosto deste ano, que inicia um segundo ciclo das Crónicas. Agora só preciso de ter tempo e cabeça para os ler a todos.

Consegui também adquirir uma relíquia, "Goor - A Crónica de Feaglar II", agora só me falta obter o primeiro volume que, aparentemente, foi republicado numa outra editora muito... diga-mos... estranha. Pelo menos para mim, como não conheço, não tenho muita confiança em adquiri o livro pela "Bubok". Daqui a uns meses, vou tentar entrar em contacto com o autor e comprar uma cópia do livro de forma mais "directa".

Entretanto, também a minha lista de Fantasia Portuguesa aumentou consideravelmente! Aos livros de Filipe Faria, Pedro Ventura e Sandra Carvalho, juntam-se agora uma vasta lista de outros autores, cujos livros me despertam interesse. Alguns mais recentes que outros, entre eles:

As Jóias Mágicas – O Início de Bruno Correia.

As Crónicas dos Cinco Reinos de Francisco Ramallheira.

A Última Vida de Sir David de Pedro Galvão.

O Quinto Pilar de Nuno Palma.

A Maldição dos Quatro Reinos de Luis Carlos Machado Miguel.

"A Revolta dos Deuses - O Dia da Tempestade - Volume I "de Afonso Azevedo.

A saga "Terras de Corza", de Madalena Santos. 

Este último, de Madalena Santos, é já uma saga completa, portanto inspira alguma confiança, se bem que a minha insegurança assemelha-se ao que sinto com os livros de Sandra Carvalho... mas pode ser que o "público alvo" não seja exclusivamente feminino... algo que só posso descobri depois de ler.

Os primeiros três são de uma editora relativamente pequena, mas tradicional (pelo que percebi), o que me dá uma sensação de relativo alívio, especialmente relativamente ao livro de Bruno Correia que logo no Subtítulo dá indícios de ter sequela...

O mesmo não posso dizer do 4º, 5º e 6º que são publicados pela Chiado Editora... o que... bem... melhor que palavras, faz-me ficar um pouco assim como o "hide the pain Harold":

Não quer isto dizer que os livros sejam de pouca qualidade... mas a probabilidade de não serem muito "afinados" é mais elevada pelo facto de a Chiado Editora ser uma "vanity press". Mas irá chegar o momento de ler esses livros... um dia.

Se alguém souber de mais livros e autores, por favor partilhem comigo! Alguém? Mas ninguém lê isto, seu grade trambolho! Pois, é verdade, eu escrevo isto para mim, mas uma vez recebi um comentário de um avido leitor do Bangladesh, escrito em hindu (acho eu)... segundo o Google tradutor ele estava a me tentar vender maquinas de lavar roupa ou assim. Mas pronto, em consideração ao meu caro amigo anónimo do Bangladesh: ALGUÊM LÊ!

Porque é que eu comecei a escrever isto? Ah pois, a review/rant sobre o livro de Filipe Faria! Vamos lá então:

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**
**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provêm da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.** 


Este livro foi consideravelmente melhor que o anterior. Tenho a sensação de que a narrativa desenvolve-se de forma muito mais fluída quando as personagens que fazem parte do grupo principal não se encontram todas juntas. Também referi isto, acho eu, no segundo livro "Os Filhos do Flagêlo", aquando da divisão do grupo em dois. Nos livros anteriores, quando todas as personagens estão juntas, o texto torna-se uma confusão quando salta da prespectiva de um para outro e mais um ou dois e três... Não que isso também não aconteça neste livro! Acontece mas, por vezes, de forma muito mais organizada. Vamos então ao assunto.

Dentro de um capítulo, o leitor pode deparar-se com um PoV de Lhiannah, passando para o PoV de Worick posteriormente recorrendo a uma quebra no texto. Contudo, pelo meio, o narrador é capaz de nos apresentar os pensamentos de personagens secundárias. Ficando tudo um pouco confuso e retirando mistério à história, pois assim temos conhecimento das intenções da maior parte das personagens. 

Isto leva a uma outra problemática, relativamente à quantidade/qualidade de cada PoV.

O narrador, não só nos conta a história das personagens do grupo principal, como também a dos antagonistas (sendo estes antagonistas principais ou secundários). Ora isto não é, só por sí, um problema mas, na minha opinião, não foi bem executado. O livro chega a um ponto em que o leitor consegue prever quase tudo o que acontece em termos de "macro-história" (não sei porque me veio este termo à cabeça, mas enfim). Por exemplo, no começo Allumno diz que, após a morte de uma antagonista no livro anterior, que (caso tenha) os filhos desta poderão perseguir a atacar três pessoas ligadas ao protagonista. Depois disto, as personagens separam-se e fica um suspense sobre o que vai acontecer relativamente a este "plot point" que foi agora levantado. Todo os "suspense" é basicamente executado, quando temos um capítulo da prespectiva dos ditos cujos novos antagonistas, onde estes planeiam quem e onde vão atacar... depois, muito mais tarde, quando estamos no PoV de outros personagens e um destes novos antagonistas aparece... não há grande surpresa, já sabia-mos que estava para vir.

Outro exemplo, este levando ao capítulo final, que é suposto ser algo relevante. Quando os eventos se desenrolam na Cidadela da Lâmina e culminam na chacina dos Lamelares... o narrador tenta incumbir algum mistério, mas o leitor já sabe quem é que está por detrás de tais acontecimentos! Porque? Ora porque apenas seis capítulos atrás, este antagonista é apresentado e os seus poderes demonstrados! Todo o suspense morreu ai, quando o leitor for informado das capacidades deste novo antagonista e que este tinha a intenção de ir ter com o protagonista para lhe fazer o mesmo! Enfim, isto acontece inúmeras vezes, em grande e pequena escala. Neste caso em particular, a Culpa já tinha aparecido no final do Prólogo, mas a personagem não é revelada. Isto podia ser facilmente resolvido dando mais relevância a outras personagens secundárias. Por exemplo, alguém chegava à Cidadela e contava que outro alguém tinha morrido de tal e tal forma (descrevendo mais ou menos a forma como a Culpa deixou o grupo de bandidos no capítulo em que foi apresentado), e problema resolvido! Os resultado dos poderes da personagem estão estabelecidos, agora ficaria para o confronto final o suspense de revelar quem é e como as coisas funcionam...

Passando à frente, mas voltando atrás, acho que o facto de o grupo principal estar dividido em quatro foi uma grande mais valia para o desenvolver do enredo. Aewyre foi para a Cidadela da Lâmina com Kror para tentar dominar a Essência da Lâmina; Allumno está numa demanda, a mando do seu mentor, com o fim de eliminar outros magos que possam vir a revelar-se favoráveis às forças do Flagelo; Lhiannah, Worick e Taislin voltaram a Nolwyn (onde a viagem começou), para entregar o corpo do pai do protagonista ao seu filho varão, bem como para avisar dos perigos vindouro; já Quenestil e Slayra tentam lidar com a gravidez da última, enquanto as hostes de Asmodeon avançam pelo território.

Todos estes PoV's principais têm os seus altos e baixos. Talvez apenas Allumno tenha um pouco menos exposição que os restantes, enquanto o PoV de Aewyre é o mais predominante. Allumno mantêm-se sempre interessante e sucinto. 

Quenestil e Slayra são também muito interessantes, tirando alguma passagem de descrição excessiva de cenas de luta, com a melhor cena de batalha até agora na saga! (Atenção que "batalha" não é o mesmo que "luta"). 

Lhiannah, Worick e Taislin (se bem que este último não têm grande presença neste livro, mas o leitor percebe que ele está a fazer progressos "out of scene" - o que deveria também ter sido implementado para várias outras personagens) estão inseridos num enredo mais político tendo, contudo várias cenas de luta com descrições excessivas.

Aewyre, juntamente com Kror, faz grandes progressos no domínio e entendimento da Essência da Lâmina, explorando um local interessante, tanto do ponto de vista das personagens como da própria história que o envolve. Infelizmente, é nestes capítulos que há mais cenas de luta, maioritariamente longas e demasiado descritivas, onde poucos progressos são alcançados. Quando algo importante acontece durante uma luta, normalmente há uma mudança de parágrafo. Isto leva a uma crítica, mas também a um agradecimento... Acho extremamente excessivo a descrição de cenas de luta (algo sobre o qual já reclamei nos três livros anteriores), e o estilo de organização de texto também não me parece muito "bom". O último incidente de que tomei nota, no último parágrafo, remete a um parágrafo que ocupa três páginas! Eu olho para aquilo e tenho vontade de desistir... mas, ao mesmo tempo, ainda bem que é assim, pois assim posso passar à frente. Nestas cenas de luta apenas temos os detalhados movimentos das personagens, ao passar tudo à frente, e por uma rápida "passagem de olhos" por certas palavra-chave no texto, o leitor consegue rapidamente compreender se alguma personagem envolvida ficou ferida, onde e como. 

 

Mesmo com tudo isto, gostei mais deste livro do que de todos os anteriores. As personagens são mais humanas, a história é mais pausada, o enredo menos infantil e as cenas de luta em número mais reduzido. Talvez, nesta altura, o autor tivesse a amadurecer as suas competências como escritor. Este foi o primeiro livro das Crónicas de Allaryia cujos finais (o final de cada enredo de PoV) me fazem querer passar já para o próximo livro!

Aos livros anteriores dei um 3 de 5, contudo, sempre foi um 3 muito a cair para o 2, não tive coragem de dar um 2 a partes de uma obra que marcou o início da fantasia portuguesa no século XXI. Com este livro, posso dizer que dou um pleno e merecido 3. Uma nota com muito mais valor que as anteriores, mas que ainda precisa de crescer mais para alcançar o 4.

 

Acho que tinha mais alguma coisa para dizer, mas agora não me vêm mais à ideia. Este até ficou curtinho comparado com os outros, o que é bom! Normalmente escrevo mais quando a coisa está "bera".

 

Vou saltar, já hoje à noite para o próximo livro.