sábado, 28 de agosto de 2021

"O Regresso dos Deuses - Rebelião" de Pedro Ventura | Agora sim, que grande aventura!

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 

 Epá... não estava à espera. É que não estava mesmo à espera desta! Que LIVRÃO! Este, comparado com os Goor, está extremamente melhor! Aliás, atrevo-me a dizer que está ao nível de grandes autores internacionais. Este sim é uma obra prima! (Não a capa contudo... acho que a capa merecia um pouco mais de amor e carinho.)

Contudo, continuo a ser da opinião que falta um mapa... por vezes é complicado uma pessoa se orientar no meio de tantas cidades e reinos.

 Neste livro a Calédra "volta" (nunca foi totalmente, mas pronto... pormenores) à vida, umas gerações depois e tem de resolver uma problema. Premissa simples, mas que se torna extremamente complexa com o desenrolar da história. O ponto mais positivo de todos é que já não há cá Fealgar para ninguém... portanto já não há personagens femininas à batatada para ver quem fica com ele (onde Calédra esteve incluída nos Goor)! Agora sim, Calédra pode ser uma personagem verdadeiramente forte! É uma personagem que não se encaixa no típico perfil de heroína, nem de vilã. Faz o que tem de ser feito para atingir os seus objetivos.

A escrita e organização do texto também estão muito mais "domadas" quando em comparação com os Goor. Provavelmente devido à editora Presença. O livro não é de todo confuso, sendo dividido em 28 capítulos. A linguagem continua completamente acessível, melhorada até.

O enredo é espetacular, eu já sou conhecedor de vários "tropes", portanto muitas vezes consigo prever o que vai acontecer numa história... contudo, em "O Regresso dos Deuses - Rebelião" fui constantemente surpreendido!

 Para além de Calédra há imensas personagens interessantes, desde Marávia, Cartina, Advark e Garleana até Delkon e a sua família e ao podre do Marden. 

Caramba... tenho mesmo um grande defeito de fabrico... quando a coisa é boa não consigo escrever. É por isso que normalmente apenas escrevo "rants".

Até agora, apesar de não ser completamente perfeito (mas haverá algo totalmente perfeito?), é o melhor livro de "fantasia" português que já li!  5/5 

Parabéns e obrigado Pedro Ventura. Por onde será que andas desde 2011... haverá alguma continuação ou uma outra história para contar?

 

domingo, 22 de agosto de 2021

"Goor - A Crónica de Feaglar II " de Pedro Ventura | Beijinhos e chouriço

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 

 Bem... sinto-me um pouco desapontado. Contudo vou começar pelos pontos positivos. 

Tal como no primeiro volume, tenho de mencionar que a capa é excelente, muito original e encaixa-se bem dentro do tema do livro.

A história começa, onde o primeiro volume nos deixou, no início da viagem para Goor. Digamos que as primeiras 180 páginas (mais ou menos), são dedicadas a esta viagem e à exploração de um território desconhecido. E aqui começa a minha rant...

Então, no primeiro volume é nos transmitido que a história " Trata-se de uma fantástica aventura do rei e dos seus companheiros, que os levará aos limites das suas capacidades e aos confins do mundo conhecido, enfrentando inúmeros perigos e a herança de um nebuloso passado que foi propositadamente apagado da memória de todos os povos.". Contudo, nesse primeiro volume, apenas acompanha-mos a preparação para tal viagem, 290 páginas de preparação. Agora, estava à espera que este segundo volume se dedicasse à aventura em si... mas não, a viagem, apesar de longa para as personagens, é bastante encurtada na narrativa, quase dedicando-se mais a um triângulo amoroso (já lá vamos) do que à exploração e aventura! Em cerca de 180 páginas essa aventura acaba e agora as restantes são dedicadas a todo o conflito que resulta da expedição. Portanto (indo à calculadora, porque conta de cabeça não é comigo), de 750 páginas de "Goor - A Crónica de Feaglar", apenas cerca de 180 páginas se dedicam ao caminho para Goor, menos ainda à exploração de Goor (sendo estas subtraídas a essas 180). Porque não intitular os livros de "A Crónica de Feaglar", deixando cair o "Goor"? Fazia mais sentido para mim.

Novamente, como no primeiro volume, a organização do texto é terrível, talvez ainda pior! Neste segundo volume, temos apenas um capítulo: "A viagem para Goor", ocupando todas as 460 páginas do livro, sem uma única quebra/espaçamento entre parágrafos (veja-se a rant anterior, sobre o primeiro volume, para mais sobre esta problemática). Para além disto, consigo perceber o porquê da Papiro Editora não ter tido sucesso. Apesar de escrita ser acessível, há inúmeros pequenos erros (coisas simples como usar singular onde devia de ser o plural e a troca de género das palavras), não estragam de forma alguma a narrativa e não são culpa do autor. É perfeitamente normal estes enganos acontecerem durante o processo de escrita. Mas demonstra a falta de uma atenta revisão por parte da editora. A agravar, encontrei também vários problemas de continuidade, por exemplo, a certa altura, Feaglar desembainha duas espadas (tendo as duas mãos ocupadas), dispara uma besta (requer duas mãos) e depois diz a Galana que têm de fugir pois ele apenas têm uma espada... tudo dentro da mesma cena.

Agora, voltando às tais cerca de 180 páginas de aventura e exploração valem a pena? No começo sim, a primeira parte da expedição é bastante interessante e empolgante, onde se entra em contacto com duas tipologias de novas criaturas e observamos como as personagens lidam com as dificuldades da viagem. Todavia, tudo isto começa a se desmoronar quando Gar-Dena pede para se afastar durante uns dias, pois precisa de estar sozinha... o seu valoroso e fiel marido, rei Feaglar, fica muito triste, portanto, uns dias depois, já está numa relação com Calédra... Enfim, tal como já tinha dito na rant anterior, Feaglar é um péssimo rei, e agora digo que até é mau amigo e companheiro. Apesar de o autor/narrador enaltecerem a personagem sempre que possível, esta personagem (que é a personagem principal) é extremamente egoísta, pondo os seus desejos acima de os de toda a gente à sua volta. As restantes personagens aceitam tudo o que ele faz, basicamente porque o autor as criou para isto. Já volto ao Feaglar.. aproveito a pausa (coisa que este livro não faz, tal como o primeiro volume), para explicar que não tenho nada contra o autor, Pedro Ventura, até o admiro por ter conseguido escrever e publicar livros em Portugal, espero eu, um dia, conseguir tal feito.

Voltando à questão da viagem, um exemplo do quão pouco explorada a expedição para Goor aparenta ser: em toda a exploração destes novos territórios as personagens apenas encontram duas criaturas, uma num pântano, e outra humanoide que depois serve como uma infindável fonte de "minions do mal", para o "Senhor da Trevas" - já lá vamos... Tudo poderia ser muito mais explorado e desenvolvido, em vez de estarmos a acompanhar Feaglar e Gar-Dena aos beijinhos e abraços, e Feaglar e Calédra aos beijinhos e abraços. A quantidade de "beijos" neste livro é descomunal, Feaglar é um distribuidor de beijos para mulheres (só as bonitas claro - interessante como sempre que uma personagem feminina é apresentada é descrita fisicamente de acordo com a sua beleza; quando uma personagem masculina é apresentada, "bem, este é o Manel", e pronto está feito). Pena que não tive esta ideia antes, podia ter contado a quantidade de beijos que o Feaglar deu a cada personagem, seria um estudo interessante... tarde demais agora.

Devido a este fatores, fiquei com a impressão que, após a chegada e partida de Goor, o enredo perdeu-se um pouco, passando a "encher cada vez mais  chouriço" com cenas irrelevantes. O objectivo inicial era chegar a Goor e acabar com os planos de Calicíada, contudo, as personagens falham esta meta e Calicíada regressa ao seu reino, cheia de novos poderes e com a capacidade de controlar as criaturas humanoides que foram apresentadas anteriormente. Isto agora leva-me a analisar os vilões da história. Calicíada (que na verdade estava possuída - ou algo do género - pelo espírito de um aurabrano mau "do antigamente") tem como objectivo o fim dos humanos porque... bem... porque é a má da fita, portanto tem de fazer coisas más. Mesma coisa mais tarde com Muthul (se não me engano), é mau e faz coisas más, porque é mau. Nenhum deles apresenta um plano ou agenda própria, apenas existem para serem os maus da fita.

Pior ainda é a derrota de Calicíada, que deveria ser o pico da narrativa. Tal ocorre dentro do seu palácio, onde a mesma tem um típico discurso de vilã, e luta contra Feaglar sozinha (Gar-Dena está mesmo ali ao lado, armada e pronta, mas não interfere para não estragar a cena). Depois de Feaglar ser derrotado, mas não morto, é claro, porque Calicíada quer que ele sofra (típica desculpa para não matar a personagem principal), Gar-Dena larga as suas espadas e lança-se contra Calicíada completamente desarmada. Morre quase instantaneamente e nesse momento algo especial acontece... os holkan, espécie de divindades ali da coisa, ao verem a sua preferida morrer, engasgam-se com uma pipoca, deixam cair o copo de coca-cola, a sua mãezinha assusta-se e pergunta-lhes "o que se passa fofinhos?" e começam a refilar para a televisão e para a mãe que é uma grande injustiça aquela personagem morrer, pois era a sua absoluta favorita e que assim não podia ser! Não há mais condições para trabalhar, estudar nem ajudar a pôr a mesa! Portanto decidem intervir e acabar com aquela brincadeira, dão um discurso fofinho sobre como a humanidade é que é boa, retiram todos os poderes a Calicíada e dão-lhe uma palmada psicológica. Depois, Feaglar levanta-se, simplesmente avança até Calíciada e corta-lhe a cabeça. E assim os holkan sentaram-se novamente a ver o resto do episódio, enquanto a mama limpava a coca-cola e as pipocas do chão. 

Muito sarcástico, peço desculpa... mas isto representou o culminar da minha paciência com o livro. O enredo principal é resolvido com um grande deus ex machina! Os holkan podiam ter intervido a qualquer altura para resolver a situação, evitado todo os problemas dos dois volumes. Mas apenas o fizeram quando Gar-Dena, literalmente, se suicidou. Não faz sentido, não demonstra criatividade, retira valor a todos os sacrifícios, nada importava, apenas a vontade daqueles seres divinos.

Enfim, depois disto ainda temos quase mais 200 páginas, onde as personagens tentam terminar com o que resta da guerra, no final temos mais uma espécie de deus ex machina, mas este não é dos piores. Simplesmente é um pouco conveniente demais para ser credível: quando os exércitos de Feaglar estão em apuros e tudo parece perdido, lá aparecem reforços inesperados que salvam o dia. Mas maior parte destas restantes páginas são dedicadas ao amor de Feaglar e à dor de perder Gar-Dena (epá, não sei, durante a viagem para Goor, ela ausentou-se durante uns dias e ele já estava enrolado com outra...). Desde que Gar-Dena morreu que era óbvio que Galana a iria substituir, basta ver pela quantidade de beijinhos que Feaglar lhe dá. Portanto nada de novo ou inesperado ai. Sinto que o final foi extremamente esticado.

Tal leva-me a outro ponto. Quando estava a pesquisar sobre os livros, ainda antes do os começar a ler, algo que se destacava eram "as personagens femininas fortes". Desenganem-se... sim, há personagens "fortes", Calédra e Gar-Dena são "fortes"... se levas um murro de uma delas vais parar à lua, mas a "força" acaba por ai. Ambas apenas querem (desculpem a linguagem crua) a pila do Feaglar. Estas duas personagens poderiam, possivelmente derrotar Calicíada, se trabalhassem juntas... ambas sabem e admitem isso (e tal tornaria a história mais interessante, sendo uma aliança entre as duas o que levaria à vitória, em vez de um deus ex machina). Contudo, o foco de ambas é matarem-se uma à outra (acabando por resultar na morte de Calédra), porque ambas querem saltar para o colo do Feaglar. São poucas as personagens que posso considerar "fortes", sejam femininas ou masculinas, e todas elas secundárias ou terciárias. Thalian, e Odralgar são interessantes, Galana pode ser considerada (já tinha esta opinião na rant anterior) a única personagem feminina (que mais se aproxima das personagens principais) a ser considerada forte. 

Terminando agora, novamente com Feaglar, a minha opinião mantêm-se (ou até mesmo agrava-se). Feaglar é um mau rei, mau marido, mau pai, mau homem... contudo é retratado como o herói da história. Ele não é fiel, apenas se preocupa consigo e com os seus sentimentos, pensa que o mundo gira à sua volta, é rude, incessível  e agressivo para com os que estão à sua volta... mas não faz mal porque depois dá muitos beijinhos e pede muitas desculpas... portanto tudo fica bem e viva Feaglar. Enfim... não estou contra a personagem ser e agir assim, não tem mal nenhum retratar uma pessoa assim como personagem principal da história, agora o que não fica bem é o tom do narrador/autor (que é totalmente omnipresente) que enaltece sempre Feaglar como um modelo a seguir. Sim, Feaglar faz coisas consideradas da praxe como sendo "do bem"... como preocupar-se com os pobres e com a criancinhas. Mas depois toma decisões que claramente os entalam por trás... mas tal não é explorado no enredo.

Acho também um pouco estranho a forma como as pessoas dos diferentes reinos humanos são retratadas. É sempre utilizado o termo "raça", os nilmec são uma raça, tal como os tendra e os dhorian... cada "raça" tem o seu reino e aparentemente, até ao desenrolar da história, estas "raças" não se misturam muito... o que é um pouco estranho, pois o "mundo" não parece ser assim tão grande, portanto os vários povos ("as várias raças") deveriam interagir mais entre-se e ter menos diferenças tão enraizadas. É um pouco estranha esta divisão em "raças"... mas pronto. Um mapa ajudaria imenso a entender este mundo... honestamente muitas vezes senti-me completamente perdido, sem saber onde as personagens estão, que reinos estão a Norte, Sul, e quais fazem fronteira com X e Y.

 

Em geral, sai desapontado de Goor. Posso dizer que até gostei mais de Allaryia e que agora percebo o porque de esta saga não ter tido sucesso. Ainda me falta agora ler "O Regresso dos Deuses: Rebelião", já desfolhei e parece que se foca apenas em Calédra, muitos anos depois.. vamos lá ver o que sai daqui. pelo menos parece mais organizado (não esperava outra coisa de algo publicado pela Presença), vamos ver se conseguiram "domar" o autor.

Nas primeiras 100 páginas do livro, estava convencido que lhe daria um 4/5, mas é me impossível. No primeiro volume perdoei muita coisa para dar um 3/5, aqui repete-se o mesmo. Não tenho coragem de atribuir um 2/5 devido a um sentimento de "camaradagem" para com um autor português. Este livro precisava de ser revisto e editado, muitas coisas cortadas e modificadas, talvez até de forma a incorporar apenas um volume. 

Ainda não decidi se parto já de seguida para o próximo, ou se vou ali a Westeros primeiro (arranjei o Fire and Blood uhuhuhuh).


Ps: Ao ler as reviews de outros leitores, por vezes pergunto-me se li os mesmo livros.


sábado, 14 de agosto de 2021

"Goor - A Crónica de Feaglar I " de Pedro Ventura | "DIVIDE ET IMPERA"

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

    Bem... isto não foi bem o que eu estava à espera.
    Primeiramente, antes de começar aqui a choramingar, adquirir este livro foi uma epopeia! À uns anos atrás, após ter lido o Hobbit e o Senhor dos Anéis, não sabia bem por onde continuar as minhas leituras fantásticas. Nestas circunstâncias, embrenhei-me num conjunto de blogs estrangeiros à procura de uma caminho viável a seguir. No meio de tantas opções, ocorreu-me que talvez devesse experimentar também alguns autores nacionais, foi aqui que a minha demanda me levou a três nomes: Filipe Faria, Sandra Carvalho, e Pedro Ventura. De todos o que me chamou mais a atenção foi mesmo o Pedro Ventura, até porque apresentava um leque mais reduzido de livros publicados (apenas três), dando-me assim a oportunidade de começar por uma saga mais pequena, em vez de me atirar aos sete (agora oito) livros das Cronicas de Allaryia, ou aos oito livros da Saga das Pedras Mágicas.
    Foi ai que surgiu a primeira problemática. Dos três livros de Pedro Ventura, os primeiros dois são uma duologia: Goor - A Crónica de Feaglar I e II, publicados em 2006 e 2007, respetivamente, pela Papiro Editora, sendo o outro: O Regresso dos Deuses - Rebelião, publicado em 2011 pela Editorial Presença. Pelo que entendi, neste momento apenas ainda li o "Goor - A Crónica de Feaglar I", a duologia Goor representa a história principal, sendo o livro mais recente uma continuação ou espécie de spin off. Portanto o meu objectivo sempre foi começar pelo primeiro livro de Goor... Contudo, apenas encontrei à venda o livro mais recente, publicado pela Presença. Após alguma pesquisa, fiquei a entender que a Papiro Editora fechou ou foi à falência, sendo que os livros de Goor ficaram "aprisionados" numa Editora que já não existe. Portanto comecei a procurar por outras opções de compra dos livros, cheguei até a enviar um email, supostamente ao autor, a partir de um endereço que encontrei num blog, com a intenção de adquirir os livros diretamente... nunca obtive resposta (acho que deve ter sido à uns dois anos atrás). Entretanto fui procurando online em sites como Custo Justo e OLX. Consegui primeiro adquirir o segundo volume e, apenas agora, à cerca de um mês, é que consegui, finalmente, adquirir o primeiro volume.
    Como primeira impressão, devo admitir que as capas da duologia "Goor" são lindas! Parecem-me extremamente originais e dão um aspecto místico ao livro.
    Agora o texto em si... não é bem o que eu esperava. A linguagem empregue é acessível, qualquer leitor pode ler este livro, contudo a organização do texto faz-me um pouco de impressão. Este livro têm 290 páginas... divididas em apenas três capítulos, sendo que um deles é o "Prelúdio" de apenas 14 páginas. O segundo capítulo, "Gar-Dena" têm 114 páginas e, o terceiro e último capítulo têm 153 páginas. Dentro de cada um destes capítulos o narrador segue várias personagens, em vários locais diferentes, sem nunca demonstrar uma barreira (pausa) na página. Eu que me queixava de os livros do Filipe Faria terem capítulos longos... o Pedro Ventura chega aqui e rebenta com a escala. O que me assusta ainda mais é que, tendo aqui à minha frente o segundo volume de Goor... parece-me que todo o livro é apenas um capítulo de 460 páginas... enfim, isso depois vamos ver. Agora, qual é o problema disto? Para mim, o livro carece muito de pausas, como leitor sinto-me sufocado pela quantidade de texto consecutivo. Não sei bem como expressar este sentimento... olha, vou editar toda esta "rant" para que esteja no mesmo formato que este livro. Olhem para os aspecto de um dos meus outros textos e depois voltem a este. Vão reparar que os pequenos espaçamentos entre alguns parágrafos fazem toda a diferença. Quando mudo de assunto, deixo um espaço, indicando ao leitor (mas ninguém lê isto ;-; ) que o assunto vai mudar, e oferecendo uma curta pausa para reflexão, um cházinho ou um xixi... Pessoalmente eu tento parar as minhas leituras no final de um capítulo, quando tal não é possível, paro numa destas pausas ou mudanças de assunto. Em Goor I, não tinha nenhuma indicação visual de onde poderiam estar estas pausas, tal como este presente texto, é tudo de seguida, o que torna o texto mais confuso. Mas enfim, custou um pouco mais mas lá se leu.
    Ainda antes de passar ao enredo, gostava de referir que qualquer um destes livros carece de um mapa. É um mundo fantástico e novo, cheio de reinos e localidades misteriosas... sem um mapa fico um pouco perdido, consigo imaginar mais ou menos onde se localiza cada reino, talvez... mas um mapa é essencial. Mesmo que seja um mapa todo torto, feito à mão pelo autor (eu também não tenho jeito nenhum para o desenho), qualquer coisa é melhor que nada.
    Passando finalmente para o enredo... não era bem o que eu estava à espera (acho que já disse isto umas três vezes). Passo a transcrever uma frase que se encontra na descrição do livro: " Trata-se de uma fantástica aventura do rei e dos seus companheiros, que os levará aos limites das suas capacidades e aos confins do mundo conhecido, enfrentando inúmeros perigos e a herança de um nebuloso passado que foi propositadamente apagado da memória de todos os povos."  Muito bonito, mas a palavra chave nesta frase é "levará". Todo este primeiro volume é como uma grande introdução, onde se apresentam e se fica a conhecer algumas das personagens que irão na viagem até Goor. O livro literalmente termina quando estão prestes a partir nesta mesma viagem, que é o motivo central da história. Viajámos sim... entre os diversos reinos, mas não como pontos de passagem para o destino final, durante grande parte do livro o destino final nem está definido. Portanto acho que não há muito que eu possa escrever sobre a "fantástica aventura" até aos "confins do mundo conhecido"...  ¯\_(ツ)_/¯
Grande parte do livro foi dedicado ao amor entre Feaglar e Dar-Dena, em pequenas doses até era fofinho, mas chegou a um ponto em que parecia que já estava a enrolar demasiado com o beijinho para aqui, abraço para ali a toda a hora, enquanto assuntos importantes e mais relevantes para o enredo podiam ter sido mais desenvolvidos. Depois, pelo meio, parece que as personagens andaram a fazer "side-quests". Isto dá-me a sensação que, na verdade, Goor deveria originalmente apenas ser um livro. E que, seja a editora ou o autor, o dividiu em dois, deixando o motivo principal no segundo volume e enchendo bem o chouriço do primeiro volume, de forma a que tivesse páginas suficientes para justificar uma publicação separada. Mas enfim, isto é só o que me pareceu.
 O Odraglar é a personagem que mais me interessa, sendo que o conflito entre Thalian e Thuron também é interessante. Feaglar não me está a cativar muito, apesar de ser retratado como um "bom rei", não me parece que seja muito astuto (não parece definitivamente saber jogar o "jogo dos tronos"), comete o mesmo erro duas vezes, em não procurar o corpo de Banstámas. Gar-Dena também não me parece muito natural, sendo uma personagem extremamente forte fisicamente, mas depois têm momentos de extrema fraqueza em que é retratada como uma frágil jarra de vidro. Já Banstámas/Calédra tornou-se interessante apenas no final deste volume. Calíciada é um enigma por desvendar.
    Enfim, é complicado dar uma nota a um livro que é basicamente a introdução para outro. Portanto fica por um 3/5. Tenho esperanças que o segundo volume, que vou começar a ler amanhã, realmente comece no trilho da demanda por Goor.

 

(Não foi um texto muito grande... mas espero que se perceba a problemática da falta de espaçamentos).

 

domingo, 1 de agosto de 2021

"Crónicas de Allaryia: A Oitava Era", de Filipe Faria. | Que grande Farinheira

Caramba, custou mas foi, terminei o último livro das Crónicas de Allaryia (até agora, acho que li algures que este segundo ciclo vai ser uma trilogia). Apenas o consegui fazer porque sou teimoso e vou ter de o continuar a ser para ler os seguintes.

Entretanto, finalmente consegui adquirir o primeiro volume das Crónicas de Faelgar, portanto a minha "viagem" pela fantasia portuguesa irá seguir por esses reinos. (Se bem que o livro ainda não chegou... tenho esperanças que chegue amanhã).

Mas vamos lá... a esta grande farinheira.

 

**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.**

**Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
 

 

 Ai mãezinha do céu e da terra, por onde começar? Passaram-se uns quantos anos desde que o autor escreveu dentro do mundo de Allaryia... e parece que conseguiu manter-se consistente, tanto no tipo de escrita, como no "ambiente" do mundo de Allaryia. Agora... será isto algo positivo? Depende. Para alguêm que gostou de todos estes aspectos no "ciclo I", vai sentir uma grande familariedade neste novo volume. Para mim? Bem... tinha esperanças que algo tivesse mudado durante os anos em que Filipe Faria esteve afastado de Allaryia, mas vejo que, infelizmente para mim, tudo se manteve.

Desde o narrador confuso e inconsistente, até às descrições extremamente detalhadas, os problemas que menceinei nas "rants" anteriores estão cá todos presentes e em força.

Começando por algo mais geral. Acho que o livro (o autor) foi indeciso no que toca ao público do livro. Acho que tentou agradar a potenciais novos leitores, como aos que já tinham lido os outros livros. Por exemplo, sinto que se perde imenso tempo a explicar o que aconteceu nos livros anteriores, o que ajuda quem vai começar a ler por aqui. Mas depois o livro nem sequer tem um mapa... ou seja, para o leitor se localizar, tem de ir buscar um dos outros livros. Se é suposto ter-se os outros volumes à mão, então vais vale cortar todos os parágrafos de "recap".

Ainda dentro da mesma ideia, mas agora indo ao promenor. Os alfanges do Kror, bem como o próprio, foram descritos ao detalhe nos volumes anteriores. Voltam a ser descritos aqui, uma... duas... três... várias vezes! É algo que o narrador enuncia cada vez que o Kror aparece! Mas porquê? Basta descrever uma vez, que eu já fico com uma ideia do aspecto da personagem, o que me escapar/esquecer, vou atrás consultar, ou então a minha imaginação preenche essa lacuna. E já lá vamos a isso da imaginação, mais para a frente.

Desta vez, dei-me ao trabalho de tipografar alguns excertos do texto, só para dar um pouco mais de enfâse a este ponto. Veja-se, a titulo de exemplo, algumas descrições do Kror:

 

Capítulo 5:

 p. 89:

" (...) Homens, mulheres e crianças gritaram ao verem abrir-se um par de asas com nervuras rígidas e veios cor de sangue coagulado, cujo padrão tanto fazia lembrar o de uma traça como aterrorizava com as imagens com as imagens de chacina e carnagem que evocava e nele se pareciam mexer. Dois pontos safirinos luziram no semblante ensombrado da criatura, um horror de pele negra marcada por extensas cicatrizes e rasgada por excrescências quitinosas vermelhas nos ombros, joelhos, cotovelos e nós dos dedos. Uma juba negra lisa, que fazia lembrar os pelos espiculados de uma larva, eriçou-se, e uma armadura de couro preto esfarrapada rangeu com o retesar de músculos quando ela empunhou dois alfanges aos seus lados, duas lâminas dissimilares mas cujos gumes pareciam igualmente sedentos de sangue.  "

p. 91:

" O pensamento incomodou Kror, que arreganhou os dentes de caninos afiados e fez com que as quelíceras em forma de pinças nas suas comissuras se relevassem elas também. As placas quitinosas na sua testa franziram-lhe ainda mais o cenho, mas os pontos azuis nas poças negras que eram os olhos do drahreg pareciam recusar-se a deixar transparecer tal emoção. (...)"

p. 92.

" Uma das armas tinha um pomo prateados cravejado com uma safira polida, um punho outrora enfaixado com fio azul-turguesa, que entretanto se desenredara e degradara, e copos argênteos em contracurva e com gravuras sinuosas neles cinzeladas, também eles com gemas azuis encastoadas nas pontas. A outra tinha o punho igualmente exposto, com tecido vermelho que o revestia pelado, um pomo preto incrustrado com um grande rubi e copos negros escabrosos decorados com pedras rubiáceas facetadas. A lâmina curva de um era fresada com elegantes linhas sinuosas, ao passo que a outra o fora com traços mais elegantes e fragosos (...)"


Capítulo 10:

p. 166:

"O jovem wolhoyno nunca vira um drahreg na sua vida, mas tinha ouvido histórias suficientes para julgar que este pudesse ser um,  a avaliar pela sua pele negra mortificada por inúmeras cicatrizes, mas as excrescências quitinosas vermelhas que lhe rasgavam a carne nas extremidades, as placas na sua testa e a juba negra eriçada como os pelos virosos de uma larva em nada correspondiam às descrições com que estava familiarizado.

Uma armadura de couro preto esfarrapada parecia fundida ao seu corpo e a ele afixada pelas excrescências que a atravessavam, duas quelíceras em forma de pinças agitaram-se esfomeadas nas comissuras da sua boca de afiados caninos arreganhados, e os dois vistosos alfanges que empunhava pareciam afiados o suficiente para cortar o fio pelo qual a sua vida estava... mas, no entanto, o monstro não avançou para o golpe mortal. 

Os seus olhos, duas safiras em covas de trevas, estavam fitos em Mørvełd; (...)"


p. 167.

" O negrume em redor das safiras que eram os olhos do drahreg expandiu-se, (...)

Porém, o súbito estalo do eriçar das asas do drahreg reteve-os a todos, formando uma tela de morte agonizante delineada por veios cor de sangue coagulado e emoldurada por nervuras negras e espinhosas."



Capítulo 12:

p. 210:

" Mesmo visto de trás e com as asas recolhidas, poupando-o assim à visão dos medonhos padrões que evocavam e prometiam morte e agonia, o drahreg era uma visão impressionante. Excrescências espinhosas avermelhadas irrompiam-lhe do que restava da sua armadura de couro negro esfrangalhado, concentrando-se nos ombros e ao longo da coluna vertebral; algumas delas tinham-se partido ou rachado, e havia rasgões que talvez tivessem sido causados por outros ferimentos e que revelavam a fusão entre carne preta e quitina cor de sangue venoso debaixo da vestimenta. As nervuras das asas recolhidas eram como um par de hastes quitinosas que oscilavam de um lado para o outro, tensas e aparentemente prontas a estalar a qualquer momento para se abrirem em toda a sua terrífica envergadura.

Embainhados entre elas estavam os alfanges com que o drahreg facilmente matara vários dos seus companheiros. Tinham punhos incrivelmente vistosos, mesmo o das pedras rubiáceas, que era mais agressivo à vista, ambos obras-primas que Tordar não podia deixar de apreciar, mesmo com o seu olhas destreinado e mesmo na situação em que se encontrava. O das pedras azuis não era decididamente arma para tal monstro, embora a cor das pedras fosse perturbadoramente parecida com a das íris do drahreg, coisa que o jovem wolhyno também nunca ouvira falar, embora nunca tivesse visto um membro do Primeiro Pecado ao vivo antes daquele."


Haja um pouco de misericórdia, por favor. É que, quase sempre que uma "nova" aparece, é descrita ao pormenor! O que, aliado à trapalhice de POV's do narrador, significa que, por exemplo, o Kror é descrito pelo narrador; depois o Kror é descrito quando é visto pelo Todar; depois o Kror é descrito quando é visto pelo Todar, mas desta vez de costas.... caramba tanta descrição da mesma coisa! E aproveito esta deixa para saltar para as descrições.


Cum caraças! Cada figurante que aparece é descrito ao pormenor, cada detalhe do cenário ou paisagem! Maior parte destes detalhes são completamente irrelevantes. Se ainda fosse algo do género: "ela tinha um vestido verde, com dois grandes botões dourados em cada punho" e depois, seja o vestido ou os botões servissem para alguma coisa, ainda perdoava. Mas quase todas as descrições são inúteis. Apenas o resultado da rica imaginação do autor... o que poderia ser algo positivo, se a imaginação do autor não matasse a imaginação do leitor. Este livro, tal como os restantes são completamente "tell" e nada de "show". Da tal tão famosa diretriz do "show, don't tell" ou "mostra, não contes" (minha tradução... não é lá grande coisa). Para ler este livro, o leitor tem de basicamente desligar o cérebro... aquela coisa que fazemos quando vemos os filmes de Sábado à tarde na TV (apenas pessoal idoso, como eu, é que se lembra... hoje em dia é só, como diz a minha avó com grande satisfação, "programas bonitos").

Enfim o livro não deixa nada à imaginação, desde o cenário, ao vestuário, às expressões/gestos das personagens... tudo a um extremo. Até as expressões, muitas vezes são alvo do mesmo processo descritivo que as cenas de luta. Em vez de algo como: "a Fortunata sorriu", é algo como: "os lábios da Fortunata abriram-se e os seus músculos das bochechas puxaram os cantos da sua boca para cima, mostrando os seus dentes brancos, com a execução do incisivo direito, que era de madeira, pois esta tinha levado com uma panela nada cara, quando tinha 22 anos, como castigo por não ter deixado o gelado ao lume o tempo necessário para ferver". Depois de tal descrição a Fortunata não volta a aparecer, pois era apenas uma figurante que se cruzou com uma personagem... por acaso. Agora imagine-se um livro cheio de tais descrições. Eu digo... o Filipe Faria tenta superar os Maias, do velho Eça de Queirós. E lá vamos nós às cenas de luta, que felizmente não são tão frequentes neste livro como nos anteriores, mas mesmo assim. Acho que o cúmulo das descrições de cenas de luta pode ser exemplificado com a última luta de Slayra com... sei lá, com um gajo qualquer que lhe fazia "olhinhos" quando ela passava, um personagem completamente irrelevante, contudo, este desafio final para a personagem começa na segunda metade da página 357 e termina para lá de segunda metade da página 359 (digamos, cerca de duas páginas e picos...). Não é das lutas mais longas do livro, contudo é basicamente irrelevante, podia tudo ser reduzido a meia página! Tal como já disse em rants anteriores, a descrição de cada movimento de uma luta é o mesmo que ver um filme de ação em slow motion... estraga completamente toda a tensão da cena.

Vamos agora ao narrador e aos POV's... que trapalhada! Continua o mesmo, se não pior. Até hoje, ainda não consegui descobrir que tipo de narrador é este! Tanto é omnipresente, como não, tanto é subjetivo como objetivo... Penso eu! Porque é uma confusão pegada, muitas vezes não sei se o narrador está a descrever do ponto de vista de uma personagem, se está simplesmente a descrever, ou se já está a descrever segundo uma outra personagem, tudo se pode alterar com uma mudança de parágrafo! Para agravar, maior parte dos capítulos são muito longos, o que resulta em assim uma dúzia de POV's diferentes, com o narrador à mistura, dentro de um capítulo. 

Ligado a isto, e também mencionado anteriormente, está a problemática de quer mostrar tudo o que está a acontecer. Temos sempre os dois lados de um conflito, o que não é totalmente algo negativo, outros autores fazem o mesmo (por exemplo o George Martin - ena... fica estranho sem o R. R. no meio não?). Contudo, nas Crónicas de Allaryia, este aspecto destrói todo o suspense do enredo. Por exemplo, nos últimos dois capítulos, toda aquela trapalhice e conflito apanha as personagens de surpresa e desprevenidas. Mas o leitor já sabe de tudo o que se está a passar... em capítulos anteriores tivemos num semi-POV (ou seja lá o que isto é), de personagens figurantes a ver os "maus da fita" a prepararem toda a traição. Depois, todo o impacto, mistério e intriga torna-se numa repetição, tendo, como única novidade, as reações de alguma personagens. Não seria melhor o leitor ser impactado com as reações das personagens, juntamente com a sua própria reação ao desvendar de uma trama? Mas o livro não deixa nada escondido... é um "livro aberto"... senta, lê, e desliga o cérebro.

Ainda no mesmo seguimento, muitas vezes sinto que o texto foca-se em aspectos irrelevantes, enquanto algo que poderia ser bem mais interessante acontece "fora de cena". Por exemplo, toda a conversa e negociação entre Aewyre e Nishekan podia ter sido muito mais explorada, quase não houve negociação nenhuma! Não vimos resistência, argumentação e contra argumentação de ambas as partes! Isto podia ter dado um capítulo longo, apenas naquela sala, com a personagens a discutir. Uma excelente oportunidade para desenvolver e explorar na integra cada personagem e os seus ideais. A negociação até podia ocorrer ao longo de vários dias! Contudo, parece-me que não houve grande negociação... apenas alguma tensão devido a quem as personagens eram e pelas suas conceções do outro, e depois a cena é saltada para um outro subplot qualquer, onde lê-mos sobre um personagem secundário a passear pela vila... Ou seja não há tempo para explorar uma negociação a fundo, mas depois perde-se páginas e páginas a descrever uma luta. Enfim...

 De mencionar também algumas inconsistências, novamente devido ao narrador, fiquei sem perceber como funcionam as armaduras, por exemplo:

Capítulo 13, p.229:

"- Quenestil - chamou a atenção do seu amigo, indicando-lhe com um gesto da cabeça que ficasse a vigiar o Aeshálan.

As três armaduras da Hoste Dourada acusaram com um ligeiro ranger uníssono a ordem mental a transferir o comando para o eahan, que nutou e recuou um passo, levando a mão ao punho do facalhão que trouxera para a cripta.

 

Capítulo 15, p.262:

"Aewyre não tinha como transferir o comando para outros, mas podia ordenar-lhes que protegessem quem ele designasse, e que obedecessem a certos sinais predeterminados."

Então pode ou não pode transferir o comando? O narrador sabe tudo, mas confunde-se? Muda conforme a conveniência à história... confusão.


Avançando, talvez devesse ter começado por aqui. Qual é o público alvo deste livro? É que toda a estrutura, constante repetição de descrições e a forma como algumas personagens são representadas, quase me indicam que é para crianças. Mas depois têm cenas sexualmente explícitas (que honestamente não fazem sentido nenhum, é a mesma coisa que as cenas de luta, descrição até ao exagero). Talvez seja apenas mesmo para adolescentes, que, tal como o livro, não sabem bem o que querem, nem o que são. (Digo isto, mas eu sou velho e também não sei).

Sinto que o autor tentou agradar a todos, até porque a personalidade das personagens não corresponde às suas idades. Se eu não soubesse a idade dos "miúdos" (filhos das personagens), eu diria que se encontravam entre os 15 e os 16 anos. Agem como crianças, (com corpos sexualidades pelas descrições do narrador), e são tratados como crianças pelos pais. Contudo, pelo que percebi, tem entre os 20 e 21 anos... Tipo... não tenho palavras para isto. Já não sei o que mais dizer. Eu pensava que o foco deste novo ciclo iriam ser estes personagens mais jovens, contudo são basicamente personagens secundários, importantes para o enredo, mas sem acção própria. São os personagens antigos que movem a história... "movem"... aí está outro problema! 

É que o enredo quase não avançou nada, neste primeiro livro do ciclo II. Passámos grande parte do texto a recapitular o que aconteceu nos livros anteriores, a descrever tudo ao pormenor (por vezes descrevendo o mesmo aspecto várias vezes), e a empatar tempo em enredos antigos. Por exemplo, o enredo do Kror querer matar o Aewyre... caramba já passámos uns quantos livros com isso, agora temos de levar novamente com a mesma coisa outra vez? Acho que, focando-se apenas no enredo relevante, cortando nas descrições excessivas e mesmo explorando mais alguns aspectos, seria possível fazer uma nova versão deste livro em 100 páginas, ou menos (livro tem 389).

Um, "à parte", que me lembrei agora e porque me recuso a fazer scroll para cima e meter isto em outra parte do texto.  O facto de Kror precisar do Todar para encontrar Aewyre é um pouco ridículo. Então ele foi atrás do Aewyre pelo mundo fora, e depois foi arrastado por ele até Ul-Thoryn, onde morreu e etc. Quando Todar responde a Kror, refere-se a "Lorde Aewyre"... será "lorde" de onde?  Lorde de Castelo de Vide? Ou será lorde daquela cidade onde o irmão dele era rei ou assim? (Sim não é bem na cidade... mas o Kror facilmente o encontraria). Portanto é apenas uma desculpa para juntar os dois personagens. Isso ou o Kror apanhou alguma variante de alzheimer, que em Allaryia transmite-se mais que a variante delta do Covid-19... pois eventos de 20 anos atrás são tratados como se tivessem ocorrido à 200.


Enfim... comecei a escrever isto às nove da noite, e já são vinte para a meia noite (com algumas interrupções pelo meio). Portanto vamos começar a fechar a loja. 

Primeiramente (no fim), caso o Filipe Faria leia este texto (nunca vai acontecer, ninguém visita este blog - também não faço por isso - para além de mim e do meu "amigo" do Nepal que ocasionalmente me tenta vender máquinas de lavar roupa em hindu), não quero que se desmotive. Epá, eu não gostei muito, mas isto é apenas a minha opinião, que vale o que vale (mas atenção que eu tive um tetravô que, segundo o próprio, era o rei do mundo). Continua a escrever o que gostas e a publicar livros. Somos tão poucos e tão pequeninos neste nosso paralelepípedo encalhado à beira mar, que não podemos estar uns contra os outros. Força, continua em frente, que eu cá estarei para apoiar e refilar, tal como o Worick o fez ao longo de todos os livros.

Não me importei muito com a morte do Babaki... era cedo demais para eu me ralar com o bichano. Agora o Worick doeu, pedras me partam.... 

E esta é para doer também, oficialmente vou dar a este livro um 2/5. Desiludiu-me imenso. Contudo, no goodreads, vou dar um 3/5, por camaradagem.  E vou mas é para a caminha...